UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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seus crimes, encontra-se mal colocado nessa hierarquia, vivendo sob a<br />
ameaça constante de violência física e sexual.<br />
O terceiro estupro enquadrado como crime no caso de Quiron<br />
foi cometido contra uma criança de 10 anos de idade e é resumido pelo<br />
próprio: “ah, passei de bicicleta, ela pediu uma carona, levei pro mato e<br />
estrupei”. O crime foi cometido no bairro Areias, na parte continental<br />
da Região Metropolitana de Florianópolis, local onde Quiron residia de<br />
maneira quase nomádica: “(...) já tinha me separado. Tava, bem dizer,<br />
na rua, porque eu... comprei uma barraca, andava só de barraca, tinha<br />
saído de dentro de casa. Tava só fumando pedra, roubando dia e noite e<br />
fumando pedra”. O próprio sujeito atesta o uso cada vez mais<br />
descontrolado de drogas, por fim largando todas as outras para<br />
unicamente fazer uso do crack: “só tava fumando crack, tinha largado a<br />
maconha, largado a cocaína, pancadão. Tem um monte de furo aqui,<br />
pode ver, ó , isso aqui são tudo furo do pancadão. Injetável. […] parei,<br />
comecei só a fumar pedra. Fumava só pedra, por dia 500 conto.<br />
Roubava o dia todo”. O grande volume de dinheiro necessário para a<br />
manutenção do seu nível de consumo da substância fazia com que<br />
necessitasse passar grande parte de seu tempo roubando, o que indica<br />
que seus vínculos com o tráfico de drogas já haviam sido rompidos,<br />
exatamente pelo consumo desenfreado de drogas. O sujeito ilustra a<br />
gravidade do problema em outro momento da entrevista, delimitando o<br />
background deste último crime:<br />
Aí voltei assaltá com uns amigo meu, comprei um<br />
apartamento, botei otra guria pra dentro do<br />
apartamento, a morar comigo, uma guria de zona.<br />
Só que, pô, ela queria fazer ponto, fazer<br />
programa. Aí botei pra fora de casa, aí comecei a<br />
fumar crack, aí vendi minha moto. Vendi por 200<br />
grama de crack. Fumei o carro todo. Vendi meu<br />
corsinha 2 porta, 300 grama de crack. Não peguei<br />
pra depois ir buscar. Não consegui ir buscar pra<br />
ver o dinheiro, tava sem arma, perdi o carro pra<br />
traficante, aí eu ofereci o apartamento pra<br />
traficante. Aí minha irmã viu que eu ia vender o<br />
apartamento, trouxe um papel em branco pra eu<br />
assinar; eu assinei e botei o apartamento no nome<br />
do meu filho. O meu filho não é de sangue, é de<br />
criação, é filho dela, não é nem minha. Mas no<br />
tráfico ele... Mas num tava co meu filho, mora<br />
com a minha irmã.