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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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162<br />

seus crimes, encontra-se mal colocado nessa hierarquia, vivendo sob a<br />

ameaça constante de violência física e sexual.<br />

O terceiro estupro enquadrado como crime no caso de Quiron<br />

foi cometido contra uma criança de 10 anos de idade e é resumido pelo<br />

próprio: “ah, passei de bicicleta, ela pediu uma carona, levei pro mato e<br />

estrupei”. O crime foi cometido no bairro Areias, na parte continental<br />

da Região Metropolitana de Florianópolis, local onde Quiron residia de<br />

maneira quase nomádica: “(...) já tinha me separado. Tava, bem dizer,<br />

na rua, porque eu... comprei uma barraca, andava só de barraca, tinha<br />

saído de dentro de casa. Tava só fumando pedra, roubando dia e noite e<br />

fumando pedra”. O próprio sujeito atesta o uso cada vez mais<br />

descontrolado de drogas, por fim largando todas as outras para<br />

unicamente fazer uso do crack: “só tava fumando crack, tinha largado a<br />

maconha, largado a cocaína, pancadão. Tem um monte de furo aqui,<br />

pode ver, ó , isso aqui são tudo furo do pancadão. Injetável. […] parei,<br />

comecei só a fumar pedra. Fumava só pedra, por dia 500 conto.<br />

Roubava o dia todo”. O grande volume de dinheiro necessário para a<br />

manutenção do seu nível de consumo da substância fazia com que<br />

necessitasse passar grande parte de seu tempo roubando, o que indica<br />

que seus vínculos com o tráfico de drogas já haviam sido rompidos,<br />

exatamente pelo consumo desenfreado de drogas. O sujeito ilustra a<br />

gravidade do problema em outro momento da entrevista, delimitando o<br />

background deste último crime:<br />

Aí voltei assaltá com uns amigo meu, comprei um<br />

apartamento, botei otra guria pra dentro do<br />

apartamento, a morar comigo, uma guria de zona.<br />

Só que, pô, ela queria fazer ponto, fazer<br />

programa. Aí botei pra fora de casa, aí comecei a<br />

fumar crack, aí vendi minha moto. Vendi por 200<br />

grama de crack. Fumei o carro todo. Vendi meu<br />

corsinha 2 porta, 300 grama de crack. Não peguei<br />

pra depois ir buscar. Não consegui ir buscar pra<br />

ver o dinheiro, tava sem arma, perdi o carro pra<br />

traficante, aí eu ofereci o apartamento pra<br />

traficante. Aí minha irmã viu que eu ia vender o<br />

apartamento, trouxe um papel em branco pra eu<br />

assinar; eu assinei e botei o apartamento no nome<br />

do meu filho. O meu filho não é de sangue, é de<br />

criação, é filho dela, não é nem minha. Mas no<br />

tráfico ele... Mas num tava co meu filho, mora<br />

com a minha irmã.

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