UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Afirmar que o discurso é formativo não é afirmar que ele<br />
origina, causa ou exaustivamente compõe aquilo que ele concede: em<br />
verdade, é afirmar que não há referência para um corpo puro que não<br />
seja ao mesmo tempo uma formação nova ou avante deste corpo.<br />
Performatividade não é, então, um “ato” singular, pois é sempre uma<br />
reiteração de uma norma ou um set de normas, de modo que chega a<br />
adquirir um status parecido ao ato no presente, escondendo ou<br />
dissimulando as convenções das quais é uma repetição. A norma do<br />
sexo toma raízes de tal forma que ela é “citada” como uma norma, mas<br />
também deriva seu poder através das citações que compele. Estes<br />
esquemas regulatórios (como o do sexo) não são estruturas atemporais,<br />
mas critérios de inteligibilidade historicamente revisáveis que produzem<br />
e subjugam corpos que importam/pesam.<br />
Butler (1997) faz também uma crítica ao registro Simbólico de<br />
Lacan (que aqui é importante ser trabalhado pela sua articulação já<br />
comentada com a lei), entendendo-o como um set racialmente articulado<br />
de normas sexuais, afirmando inclusive que, se existe um normativo em<br />
seu trabalho, ele consiste precisamente em assistir a uma ressignificação<br />
radical do domínio do simbólico. Assim, coloca-o como uma regulação<br />
temporalizada da significação, e não como uma estrutura quase<br />
permanente.<br />
Esta ressignificação é parte constituinte desta pesquisa. Aqui<br />
pensada como a possibilidade de se extrair dos depoimentos destes<br />
homens as possibilidade de alterações radicais das enunciações que<br />
atravessam os mesmos. Ressignificadas radicalmente estas enunciações<br />
teriam também a potencialidade de modificar a realidade que vivemos<br />
performativamente. Não existe apenas um projeto de compreensão<br />
crítica em Butler, mas também teses de modificação política. Estas teses<br />
se explicitam como políticas do performativo e agência discursiva<br />
(1997a, p. 127-128) e demonstram como a própria teoria queer ao tomar<br />
o termo pejorativo e torná-lo politizado modificou o sentido que a<br />
palavra mesma evoca. Esta modificação, acredito, não se sustenta<br />
apenas pelo campo de estudos queer, mas também se aplica a qualquer<br />
campo. A partir da fala destes sujeitos é possível identificar o nexus<br />
entre violência, linguagem e lei (1997a, p. 54) e a partir deste processo<br />
de pesquisa delimitar quais as possíveis ressignificações que este campo<br />
abre, a partir destas pode-se atingir o cerne linguístico já previamente<br />
caracterizado da violência sexual – e modificá-lo. Claramente esta<br />
mudança não será realizada com uma dissertação, mas consideremos<br />
que este é apenas um passo em direção à uma sociedade que