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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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62<br />

Afirmar que o discurso é formativo não é afirmar que ele<br />

origina, causa ou exaustivamente compõe aquilo que ele concede: em<br />

verdade, é afirmar que não há referência para um corpo puro que não<br />

seja ao mesmo tempo uma formação nova ou avante deste corpo.<br />

Performatividade não é, então, um “ato” singular, pois é sempre uma<br />

reiteração de uma norma ou um set de normas, de modo que chega a<br />

adquirir um status parecido ao ato no presente, escondendo ou<br />

dissimulando as convenções das quais é uma repetição. A norma do<br />

sexo toma raízes de tal forma que ela é “citada” como uma norma, mas<br />

também deriva seu poder através das citações que compele. Estes<br />

esquemas regulatórios (como o do sexo) não são estruturas atemporais,<br />

mas critérios de inteligibilidade historicamente revisáveis que produzem<br />

e subjugam corpos que importam/pesam.<br />

Butler (1997) faz também uma crítica ao registro Simbólico de<br />

Lacan (que aqui é importante ser trabalhado pela sua articulação já<br />

comentada com a lei), entendendo-o como um set racialmente articulado<br />

de normas sexuais, afirmando inclusive que, se existe um normativo em<br />

seu trabalho, ele consiste precisamente em assistir a uma ressignificação<br />

radical do domínio do simbólico. Assim, coloca-o como uma regulação<br />

temporalizada da significação, e não como uma estrutura quase<br />

permanente.<br />

Esta ressignificação é parte constituinte desta pesquisa. Aqui<br />

pensada como a possibilidade de se extrair dos depoimentos destes<br />

homens as possibilidade de alterações radicais das enunciações que<br />

atravessam os mesmos. Ressignificadas radicalmente estas enunciações<br />

teriam também a potencialidade de modificar a realidade que vivemos<br />

performativamente. Não existe apenas um projeto de compreensão<br />

crítica em Butler, mas também teses de modificação política. Estas teses<br />

se explicitam como políticas do performativo e agência discursiva<br />

(1997a, p. 127-128) e demonstram como a própria teoria queer ao tomar<br />

o termo pejorativo e torná-lo politizado modificou o sentido que a<br />

palavra mesma evoca. Esta modificação, acredito, não se sustenta<br />

apenas pelo campo de estudos queer, mas também se aplica a qualquer<br />

campo. A partir da fala destes sujeitos é possível identificar o nexus<br />

entre violência, linguagem e lei (1997a, p. 54) e a partir deste processo<br />

de pesquisa delimitar quais as possíveis ressignificações que este campo<br />

abre, a partir destas pode-se atingir o cerne linguístico já previamente<br />

caracterizado da violência sexual – e modificá-lo. Claramente esta<br />

mudança não será realizada com uma dissertação, mas consideremos<br />

que este é apenas um passo em direção à uma sociedade que

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