UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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lo, segundo sua temporalidade própria, na retroação da enunciação em<br />
relação ao enunciado [...]” (Carvalho, 2008, p. 130).<br />
Esta retroação – que proponho ser lida como performativa – é o<br />
que resulta do cruzamento do discurso sobre a cadeia significante,<br />
acarretando algo de um acontecimento discursivo que, no plano<br />
significante, vai além da intenção processada no discurso do sujeito<br />
(Carvalho, 2008, p. 157). Na mesma linha deste pensamento, Butler<br />
(1993) também anuncia que a performatividade não é consciente nem<br />
tem uma ordem lógica, mas se estabelece como depósitos gradativos,<br />
formando o sujeito ao mesmo tempo em que este produz atos<br />
performativos.<br />
2.9 O Discurso do Sujeito frente à Lei<br />
Em uma fala destinada a advogados falando sobre as<br />
descobertas de Jung sobre os complexos ideativos e os atos falhos,<br />
Freud estabelece algumas distinções entre o trabalho do psicanalista e o<br />
trabalho de um criminalista tentando compreender se um sujeito é ou<br />
não culpado. Relata:<br />
(...) no neurótico o segredo está oculto de sua<br />
própria consciência; no criminoso, o segredo está<br />
oculto apenas dos senhores. No primeiro existe uma<br />
autêntica ignorância, embora não em todos os<br />
sentidos, enquanto no último só existe uma<br />
simulação de ignorância. Com essa diferença está<br />
em conexão uma outra que tem grande importância<br />
prática. Na psicanálise o paciente ajuda a combater<br />
sua resistência através de esforços conscientes,<br />
porque espera lucrar com essa investigação, isto é,<br />
curar-se. O criminoso, ao contrário, não cooperará<br />
com o trabalho dos senhores; se o fizesse, estaria<br />
trabalhando contra todo o seu próprio ego.<br />
Entretanto, em compensação, em suas investigações<br />
apenas os senhores necessitam obter uma convicção<br />
objetiva, ao passo que nossa terapia exige que o<br />
paciente também adquira essa mesma convicção.<br />
Contudo, resta ver até que ponto essa falta de<br />
cooperação do sujeito de seu exame irá dificultar ou<br />
alterar o desenrolar do mesmo. Tal situação não<br />
pode ser reconstituída em suas experiências num<br />
seminário, pois o colega que desempenha o papel de