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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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44<br />

autônoma e heterogênea ao sujeito, claramente um passo na direção do<br />

pós-estruturalismo.<br />

A autonomia do simbólico (em um primeiro momento anterior à<br />

introdução do nó borromeano) propõe novamente um descentramento da<br />

leitura comum do estruturalismo, um vez que, mesmo que este proponha<br />

que a linguagem e as relações de parentesco e circulação têm<br />

predominância na constituição de sujeitos, ainda assim não se pensa a<br />

cultura (ou o simbólico) como uma entidade autônoma, mas sim<br />

constituída e constituinte dos sujeitos que nela vivem. Em Lacan, há<br />

uma distorção dessa visão, alterando-a para a excentricidade do sujeito<br />

do inconsciente, novamente um deslocamento claramente contrário à<br />

direção do estruturalismo. A metáfora lacaniana da carta roubada de Poe<br />

é uma alusão exatamente à cadeia significante que compõe o<br />

inconsciente e como o sujeito é sobredeterminado pelos significantes<br />

nela contidos. Como Lima (2006) aponta, o sujeito está à revelia dos<br />

elementos que o constituem, e o inconsciente não pode ser nem<br />

esquecido nem destruído. Aqui a questão do determinismo traz alguns<br />

problemas no tocante à possibilidade de uma psicanálise pósestruturalista<br />

– problemas e não impossibilidades, pelo fato de a questão<br />

do agenciamento ser sempre pensada em determinações sociais e<br />

linguísticas, portanto também colocando algumas determinações ao<br />

sujeito, assim como a performatividade de Butler, que imputa ao sujeito<br />

também apenas as possibilidades que lhe são delimitadas pela<br />

construção em camadas de si mesmo, e não a performance teatral, que<br />

lhe daria total liberdade de trocar de sexo/gênero/desejo a cada instante.<br />

Acedemos, então, ao ponto de que a determinação inconsciente segue as<br />

mesmas regras que outras determinações às quais sofremos em qualquer<br />

sujeito/posição que se encontre dentro de uma cultura.<br />

Lacan (1982[1975]) define, em suas próprias palavras, que sua<br />

quebra com o estruturalismo advém da dissonância entre a linguagem<br />

composta de semântica, a semiologia e a alíngua que propõe ao tornar o<br />

inconsciente uma dimensão alheia às regras da linguagem, a qual admite<br />

o signo subordinado ao significante. Portanto, o inconsciente seria<br />

composto de partes ao mesmo tempo inextricáveis e incongruentes e<br />

seria impossível de ser pensado dentro do estruturalismo. Lacan<br />

promove uma quebra do estruturalismo saussureano, mas sua<br />

aproximação da matemática mantém a ideia de estruturas universais.<br />

Outro ponto em relação ao qual é possível ressaltar<br />

distanciamentos do estruturalismo por parte da teoria lacaniana é na<br />

questão do falo como universal. No Seminário XX, Lacan já começa a<br />

utilizar a função fálica em vez do falo como objeto de teorização;

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