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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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117<br />

menção do nome carrega um peso simbólico que o sujeito não consegue<br />

sustentar, optando pelo não uso, escandindo este significante.<br />

O julgamento de Esaú, assim como de quase todos os outros<br />

sujeitos entrevistados, é marcado pelo fato de que sua palavra não é<br />

ouvida; ele não é chamado a depor e apenas recebe a punição<br />

diretamente da juíza ou do juiz. Fala também: “nem sei, nem me lembro<br />

de nada, só sei que disseram ‘condenado’ e pronto. Aí não tava nem<br />

sabendo que tava condenado da outra vez”. Esse fato demonstra como<br />

inexiste uma escuta para os acusados de crimes sexuais, escuta que<br />

poderia ser reveladora de seus funcionamentos e motivações, ampliando<br />

a gama de intervenções e prevenções possíveis.<br />

O conceito de violência oferecido por Esaú é metafórico: “é<br />

violência, se uma pessoa não se dá, né? Não tem um ditado, dois boi de<br />

um lado e um puxa de um lado e outro puxa de outro? Não dá certo. Aí<br />

o que que acontece: o que não quer puxar vai apanhar mais. Né? Então<br />

acho que isso aí que é a violência, né? Aí, então, apela pra violência”.<br />

No entanto, fala apenas de violência física ou de discordância entre duas<br />

partes. Notavelmente, seu conceito é bastante parecido com aqueles<br />

desenvolvidos por teóricos sobre a violência, como Hanna Arendt<br />

(1985, p.19), que, concordando com C. Wright Mills, afirma que toda<br />

violência é uma disputa por poder e que o poder mais definitivo é aquele<br />

exercido pela violência. Claramente a resolução de disputas (assim<br />

como afirma Freud no texto “Por que a guerra?”) através da violência<br />

não é a melhor maneira, mas a que vem prevalecendo em nossa<br />

sociedade, sendo passível de mudança. No caso de Esaú, parece ser uma<br />

das vias mais utilizadas por ele para a resolução de seus conflitos:<br />

quando a palavra não é suficiente, utiliza a violência (Gryner et al<br />

2003).<br />

Quando perguntado sobre violência sexual, Esaú não modifica o<br />

que havia falado desde o início da entrevista:<br />

Por que eu ia fazer uma coisa dessa? Um filho<br />

meu, uma filha minha, uma neta minha. Ãh? Tu<br />

me diz uma coisa: como é que eu vou fa... teria<br />

coragem de fazer uma coisa dessa? Jeito nenhum!<br />

O que eu tinha de mulher, pô, à vontade. Por que<br />

que eu ia fazer um negócio, coisa, com família,<br />

próprio com minha família? Jamais. Eu tô<br />

pagando coisa que não fiz. Eu tô consciente na<br />

minha cabeça, já decidi. Eles pra lá, eu pra cá,<br />

entendeu?

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