UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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186<br />
um estupro. Claramente Carlos tem dificuldades em compreender o que<br />
se passava emocionalmente com sua vítima. A próxima fala é<br />
significativa a respeito deste ponto:<br />
No meu ver, assim, que parece, assim, elas tavam<br />
gostando, parece que foi uma aventura pra elas<br />
também. Claro que aí depois elas caíram na real<br />
do que aconteceu. Daí sei lá o que aconteceu na<br />
cabeça delas. Mas senão, assim, na hora, assim,<br />
parece ser. Se não levasse o carro, acho que ela<br />
não tinha feito nem denúncia – nem do roubo,<br />
nada. Podia ter feito só do assalto, mas não do<br />
estupro, não tinha. Parece até que gostava. Pelo<br />
menos uma delas parece que gostou, a outra não.<br />
Outro ponto interessante é o fato de conseguir notar que a<br />
vítima do menor não estava gostando, enquanto considera que a vítima<br />
que ele próprio havia estuprado teria possivelmente gostado. O<br />
argumento que utiliza para fazer tal separação é o seguinte: “porque ela<br />
era virgem, né? [...] A que eu tava pegando não era virgem, a virgem<br />
tava com outro”. As próprias palavras utilizadas por Carlos – numa<br />
perspectiva enunciativa – demonstram que não considera aquilo que<br />
fazia um estupro. Ao se utilizar da palavra pegando (um claro<br />
eufemismo), acaba por revelar exatamente o deslizamento que<br />
novamente o retira do lugar de agressor. Por outro lado, é possível que o<br />
pegar do qual fala seja efetivamente como se comporta com todas as<br />
mulheres, entendendo-as como objetos sexuais que deve capturar. A<br />
diferenciação que faz entre as duas vítimas ao dizer que o único motivo<br />
pelo qual a vítima que estava sendo estuprada pelo menor estava<br />
sofrendo era por ser virgem também é indicativa da dificuldade em<br />
apreender aquilo que as mulheres sentiam nesta situação e forma outro<br />
dos aspectos relevantes para a compreensão da relação de Carlos com as<br />
mulheres. Aqui é possível apontar a relevância da concepção de Freud<br />
de pulsão de dominação. Costa (1984, p. 29) comenta que a pulsão de<br />
morte vem a subsumir esta conceituação, apenas como um aglutinante<br />
que<br />
(...) reordena a antiga divisão pulsional, colocando<br />
em primeiro plano da vida psíquica a tendência à<br />
destruição do sujeito e do objeto. Agora, ao lado<br />
da sexualidade, a destruição vai interferir<br />
decisivamente na explicação dos mecanismos