12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

82<br />

que isso nada tem a ver com a constituição discursiva; porém, ao criar<br />

uma realidade discursiva, torna real e atualiza aquilo de que fala.<br />

O enunciado está ligado praticamente ao frasal, aos movimentos<br />

próprios da língua falada. Já a enunciação tem um caráter mais<br />

complexo, principalmente por sua característica de inconsciente e<br />

instituinte. No momento em que o sujeito pensa a frase e a fala, produzse<br />

um diferencial. O ato da enunciação em si é produtor; em um possível<br />

sentido, é performativo. Ao dizer, o sujeito se faz e se estabelece na<br />

economia significante.<br />

Este sujeito, comumente criticado por ser pensado como sujeito<br />

desaparecido, na realidade tem uma função muito bem situada como<br />

produtor da cultura na qual se encontra, assim como autor da enunciação<br />

– mesmo que muitas vezes seja cortado pela barra lacaniana, o que torna<br />

a enunciação um ato de saber insabido –, que tem como efeito a<br />

produção discursiva. Esta é uma produção inegavelmente positivada,<br />

visto que, em análise, ela produz a interpretação e posterior queda do<br />

analista a resto; na política, ela institui tudo que conhecemos como<br />

disputas e mal-entendidos; e, no discurso comum, produz a fala vazia de<br />

Lacan (que nem pelo nome significa que seja completamente esvaziada<br />

de sentido; esta só é vazia no que concerne ao sujeito do gozo e do<br />

inconsciente).<br />

Neste caso, existe uma oposição entre o sujeito do enunciado e<br />

o sujeito da enunciação, de certa maneira espelhando a oposição que se<br />

evidencia no interior do sujeito barrado. O sujeito, sendo entendido<br />

como advindo da linguagem (ou ao menos da hiância da corrente<br />

significante), torna óbvio que, no próprio ato da produção do<br />

significante na fala, advenha o sujeito como enunciação (Dor, 1989).<br />

Tão logo isso acontece, entra em cena o Vorstellungrepresentanz<br />

freudiano ou o representante da representação, maneira que Freud usou<br />

para conceituar a necessária quebra entre o cogito cartesiano e o sujeito<br />

do inconsciente. Esta impossibilidade do sujeito de demonstrar a<br />

representação pura acaba por assinalar que existe uma barreira onde o<br />

sujeito se perde na verdade de seu ser.<br />

Esta divisão já estava anunciada na obra de Freud, ficando clara<br />

principalmente no tocante à pulsão (nesta passagem erroneamente<br />

traduzida como “instinto”, do original Trieb), que coloca para o sujeito<br />

do inconsciente a impossibilidade do acesso à pulsão pura:<br />

Um instinto [pulsão] jamais pode tornar-se um<br />

objeto da consciência - somente a idéia<br />

[Vorstellung] que representa o instinto é que pode.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!