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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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161<br />

[...] o perverso está em a, submetido ao circuito<br />

pulsional, submetido à exigência pulsional<br />

(Anspruch des Triebes), para não se deparar com<br />

a contradição imposta pela realidade traumática da<br />

castração (Einspruch der Realität). Desse lugar ele<br />

não pode se furtar o que, por outro lado,<br />

impossibilita a angústia.<br />

Isso implica que a falta de qualquer angústia no sujeito em<br />

virtude das repetidas violências cometidas não só é um fator relevante –<br />

que seria chamado de offense supportive por Polaschek & Gannon<br />

(2004) –, mas uma impossibilidade para o sujeito, consequência do<br />

lugar que necessita ocupar para manter em cheque a castração que a<br />

todo tempo o ameaça. Portanto a possibilidade de se identificar com as<br />

vítimas e, como consequência, sentir (ou minimamente imaginar) o que<br />

estas sentem no momento em que sofrem algum tipo de violência está<br />

absolutamente fechada para Quiron, que habilmente se utiliza dessa<br />

conjugação de fatores para disso exercer uma atividade economicamente<br />

rentável e construir sua vida.<br />

Alguns dos únicos aspectos que escapam a essa lógica são a<br />

briga que teve com um homem encarcerado pelo estupro da própria<br />

filha, seu término com Sandra após descobrir que a mesma havia<br />

realizado um aborto e o último estupro que cometeu em liberdade,<br />

cometido contra uma criança de 10 anos de idade na época. Todos estes<br />

dados também têm entre si um fator unitário e regular na presença de<br />

crianças. Quiron relata que gosta muito de crianças e também seu desejo<br />

de eventualmente ter uma filha ou um filho, assim como a motivação<br />

para o espancamento e posterior estupro de Sandra é o abortamento,<br />

igualmente no caso da briga com o homem que estuprou a filha. O que<br />

se passa é o atravessamento de um limite que Quiron não suporta,<br />

mesmo que o próprio o tenha atravessado também. Segato (1999) relata<br />

que existe um tipo de código de conduta dentro das penitenciárias que<br />

identifica os autores de crimes sexuais como aqueles que cometem<br />

crimes irracionais e que alteram toda a ordem social pelo fato de que<br />

outros presos os veem como capazes de também cometer os crimes<br />

pelos quais estão presos contra suas próprias mães, irmãs, esposas, etc.<br />

quando saírem do cárcere. Portanto, além das hierarquias produzidas<br />

pelo próprio judiciário – como os prédios do “seguro”, que não existem<br />

na legislação (Marques Junior, 2007) –, também uma hierarquia de<br />

periculosidade para a sociedade é produzida. E Quiron, por conta de

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