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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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Aqui, sua relação com as drogas se apresenta de maneira a ser<br />

utilizada ao mesmo tempo como motivo (origem) e como fim (objetivo)<br />

do crime, principalmente no caso dos assassinatos que realizava para o<br />

tráfico. A correlação de sua construção com o grafo da pulsão elaborado<br />

por Lacan é interessante, visto que toda a lógica apresentada por Quiron<br />

está altamente balizada por sua própria impossibilidade de renúncia<br />

pulsional: “as próprias proibições do supereu podem retornar para o<br />

sujeito como comando de gozo, demonstrando que não há, justamente,<br />

renúncia pulsional” (Alberti, 2005, p. 346). Esta impossibilidade se<br />

encontra identificada na perversão, visto que o sujeito perverso recusase<br />

reiteradamente a reconhecer a falta e, portanto, contesta a lei do pai<br />

como instância regulatória da dinâmica do desejo. A única dinâmica<br />

possível, neste caso, torna-se o horror à castração, que tem como efeito<br />

confundir o sujeito entre a renúncia ao desejo e a renúncia ao objeto<br />

primordial do desejo (ainda no Édipo). Como efeito, este sujeito nunca<br />

ascende ao estado do desejo do desejo do outro,fomentando as tentativas<br />

a todo o custo de demonstrar que a única lei que conta é a lei imperativa<br />

do seu próprio desejo, e não a lei do desejo do outro (Andrade, 1992). É<br />

uma estrutura que, diria Freud nos “Três ensaios sobre a teoria da<br />

sexualidade”, é a negativa da neurose (Freud, 1905 [1972]).<br />

A situação previamente relatada sobre o uso de drogas de<br />

Quiron na realidade é o pano de fundo que antecipa o que ele considera<br />

ser o primeiro estupro que cometeu. Na realidade, o que Quiron entende<br />

como primeiro estupro é o segundo de uma sequência, tendo como<br />

cenário imediatamente anterior uma briga em um relacionamento estável<br />

que mantinha. Este relacionamento tem uma importância central para os<br />

estupros que comete posteriormente e, para a melhor compreensão das<br />

motivações de Quiron, deve necessariamente ser explicado.<br />

A história de Quiron com Sandra 15 inicia-se com um encontro<br />

aleatório: “fui na praia fumar um baseado, encontrei ela chorando com<br />

o neném no colo. Acabei pegando a criança no colo, gostei da criança,<br />

adoro criança. Daí vi que eu queria ela pra mim”. Esta criança que<br />

Sandra tinha no colo seria, então, adotada por Quiron e criada como sua<br />

própria. Atualmente a criança mora com a irmã do mesmo e não tem<br />

contato com sua mãe biológica, que tem outros filhos e outro casamento.<br />

O desejo do sujeito de ter uma criança é exatamente um dos fatores mais<br />

importantes na relação com Sandra e também o motivo de sua quebra:<br />

15 Nome fictício.<br />

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