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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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mentais e passar a ser considerada um dos<br />

elementos primordiais no destino da vida psíquica<br />

e social do homem.<br />

A questão que continua nebulosa se refere ao que conseguia<br />

compreender da situação das vítimas durante o estupro e ao término<br />

dele. Sua descrição dos momentos durante o crime é também<br />

caracterizada pela esquiva em relação ao crime em si:<br />

Por causa dos dois [a violência sexual e a<br />

presença da arma de fogo], né? Uma por causa<br />

dos dois, a outra não, a outra só por causa da<br />

arma mesmo. E tava com medo de matar... coisa,<br />

né? Matar, mata. Queria botar um pânico. Ele<br />

dizia: “é, eu vou matar, vou matar!”. Mas<br />

ninguém ia matar... Eu não sei qual seria minha<br />

reação se eu tava com a arma na mão. Eu acho<br />

que já era pra ele, né? A hora, aquela hora que<br />

eu olho pra trás e vejo ele fazendo, já era pra ele.<br />

Não tem consequência, eu mato ele na hora.<br />

Naquele ato, naquele momento ali.<br />

Inicialmente, esta afirmação do sujeito pode parecer paradoxal,<br />

mas nesta fala também encontramos em ação a identificação que se<br />

impõe apenas para a vítima do outro. Afinal o sujeito não pensa em<br />

cometer suicídio por causa do que fez, que, com efeito, foi o mesmo que<br />

o menor de idade portando a arma de fogo.<br />

Em alguns momentos da entrevista, o sujeito relata uma postura<br />

diferente em relação ao que fez, abandonando a ideia de um<br />

destacamento e da possibilidade de que a agressão sexual não havia sido<br />

violenta: “...até fiquei com nojo depois que aconteceu. Ah, parei assim e<br />

pensei assim: “meu deus, o que que eu fiz?”. Já era tarde. […] Claro<br />

que eu me arrependo hoje, né? Que me arrependo bastante, mas... fazer<br />

o quê? Aconteceu. Foi um deslize que eu tive na minha vida”.<br />

A partir do fim do estupro que cometeu, Carlos parece<br />

finalmente começar a compreender que tinha uma opção durante o crime<br />

e começa a modificar seu comportamento. Utiliza essa modificação<br />

ainda para argumentar e diminuir os efeitos psíquicos do que havia<br />

transpassado: “só disse ‘ó, fica aí que uma hora depois vocês aí’. Aí<br />

gente amarrou elas, né? ‘Ah, vocês vão se soltar, aí’. E ‘ah, pega um<br />

cigarro’, e dei na boca dela, assim. Fumei, caiu, peguei uma carteira de<br />

cigarro, do lado aqui: ‘ó, se vocês quiserem’. Deixei uns fósforo e fui

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