12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

da melancolia. Postula que a forclusão agiria de forma a sancionar (e<br />

não coibir, como comumente entendida) e produzir certas sexualidades e<br />

barrar outras no social. A melancolia se liga à estas formulações como<br />

maneira de explicar como a criança em seu estado perverso-polimorfo<br />

agiria para forcluir os desejos sexuais para com objetos não aceitáveis<br />

socialmente, ou seja, heteronormativos (idem, p. 18, 1997). A alteridade<br />

constitutiva citada por Fagundes (2004) é trabalhada por Butler (1997)<br />

como uma entrada forçosa no mundo da liguagem. Mundo que<br />

paradoxalmente é constituído por outros, mas que para que um sujeito<br />

adentre-o necessita aceitar em certo grau nomes, termos e classificações<br />

alheias a si mesmo, marcando uma alienação inicial da subjetividade.<br />

Alienação que é entendida como uma violência primária (Butler, 1997,<br />

p. 20). Estas teorizações não são completamente alheadas daquelas<br />

encontradas na psicanálise, mesmo que a violência primária da<br />

linguagem seja entendida estando em sua maior potência durante o<br />

Édipo, exatamente caracterizado como a entrada do sujeito na cultura e<br />

na linguagem. Já a violência primária aparece no encontro do sujeito<br />

com a sexualidade e, principalmente, com a pulsão.<br />

A violência parece estar situada no limite do suportável, onde<br />

fica demarcada a diferença de lugares. Uma prática violenta<br />

necessariamente manifesta uma diferença e implica também o<br />

reconhecimento de diferentes lugares e sujeitos. “A violência é um<br />

artefato da cultura, um particular do viver social” (Fagundes, 2004, p.<br />

33). Esse reconhecimento acerca de distintas posições, por sua vez, não<br />

precisa ser necessariamente a divisão entre autor de violência e vítima,<br />

mas sim uma definição de limites, mesmo que seja provisório. Há um<br />

estranhamento que ocorre quando nos deparamos com a morte ou com<br />

alguma violência que carrega o irrepresentável, como o caso da<br />

violência sexual. Porém, o ato violento, por mais que escape à<br />

representação, parece produzir representações diversas, e aí reside um<br />

ponto de possível análise e pesquisa (Hartmann, 2005, p. 45-47).<br />

Se não existe realidade pré-discursiva e se a violência carrega<br />

em si o irrepresentável, podemos supor que o que conhecemos como<br />

violências são manifestações derivadas de determinados discursos que<br />

tendem a um lugar no qual o discurso não se sustenta como produtor de<br />

realidades. Isso quer dizer que a violência toma corpo quando o discurso<br />

falta, ou seja, a violência começa onde a palavra acaba (Hartmann,<br />

2005; Gryner, 2003). Do fazer, neste caso, é preciso que se extraia a<br />

palavra – a palavra que porta a violência.<br />

A violência somente se dará quando o discurso tocar no limite<br />

do irrepresentável (Hartmann, 2005, p. 48). Considerando tal dimensão<br />

51

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!