UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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frequentemente amorosas. Porém, não acredito que haja aí uma<br />
interlocução impossível entre as teorias, e sim uma complementaridade<br />
que pode servir como modelo explicativo mais completo e complexo.<br />
2.3 Por uma Psicanálise Pós-estruturalista?<br />
O estruturalismo de Saussure se caracteriza pela inclusão da<br />
língua como objeto das ciências humanas em uma tentativa de analisá-la<br />
através de seus vários e complexos sistemas de inter-relacionamento<br />
(Vicenzi, 2009). No caso de Lacan, isto aparece através do foco na<br />
instância do simbólico como primordial, característica que é<br />
predominante na chamada primeira fase de seu ensino (Lima, 2006, p.<br />
233). Existem outros aspectos que devem ser também considerados para<br />
uma melhor compreensão de como o estruturalismo e o pósestruturalismo<br />
se mostram dentro do ensinamento lacaniano – por<br />
exemplo, o fato de que as outras instâncias, Real e Imaginário, ao longo<br />
da obra, tomam cada vez mais importância para, no final de seus<br />
seminários, encontrarmos a chamada clínica do Real colocada como<br />
centro da teorização. O lugar do Outro e a equação do sujeito como<br />
“inconsciente estruturado como uma linguagem” são outros aspectos<br />
que se modificam (aspectos por vezes são abandonados, outras vezes<br />
sofrem modificações leves e cumulativas. Lacan raramente fala<br />
diretamente destas mudanças centrais em sua teoria) e alteram<br />
radicalmente toda a estruturação da revisão 6 da teoria freudiana, que é<br />
entendida como a empreitada lacaniana.<br />
Algumas das diferenças mais importantes entre as duas<br />
correntes são também bem exemplificadas pelos desenvolvimentos da<br />
teoria lacaniana, nomeadamente a incompletude do sujeito barrado<br />
lacaniano, a linguagem e o discurso como produções não<br />
necessariamente subjetivas, mas que fazem parte de um milieu a que o<br />
sujeito tem acesso e (como fica bem exposto no Esquema L de Lacan)<br />
que atravessa sempre o campo do Outro.<br />
Porém, mesmo no Discurso de Roma, Lacan já se refere ao<br />
inconsciente como estrutura alheia ao sujeito, referido à estrutura da<br />
linguagem (Lima, 2006, p. 235), de modo que funciona de maneira<br />
6 O retorno a Freud é reconhecido como um dos pilares centrais do início das teorizações de<br />
Lacan. Eventualmente as teorizações de Lacan tomam forma própria e produzem novas<br />
conceituações. No entanto, Lacan continua a dizer-se Freudiano.<br />
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