UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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A pulsão de morte muitas vezes é compreendida como a única<br />
pulsão, pois carrega em si um aspecto que Freud sublinha de maneira<br />
muito grave, o da repetição. A repetição do desprazeroso (ou do gozoso,<br />
segundo Lacan) é algo que, ao longo dos escritos de Freud, sempre<br />
propõe um desafio à sua compreensão da neurose e da pulsão. Se há<br />
uma pulsão de vida, ou de prazer, esta haveria de ao menos ter uma<br />
força suficiente para que o sujeito não se colocasse constantemente em<br />
situações que lhe causam intenso desprazer – o que os neuróticos<br />
comprovam a todo tempo que não ocorre. Em segundo lugar, figura a<br />
importância que a conceituações sobre agressividade, ambivalência,<br />
sadismo e masoquismo tomam na teoria psicanalítica ao longo do<br />
tempo, principalmente por causa dos casos de neurose obsessiva e de<br />
melancolia que trazem à tona muito claramente os joguetes pulsionais<br />
encontrados em tais casos. Em terceiro lugar, aparece a difícil teorização<br />
do ódio, primeiramente tida como relacionada à pulsão de vida (ou<br />
Eros), e em segundo lugar à pulsão de morte (ou Thanatos), tendo como<br />
pano de fundo os pares antitéticos Freudianos. O ódio, ao ser entendido<br />
como anterior às relações de amor, parece ter uma ligação com o<br />
narcisismo primário, mas acaba por borrar os limites entre pulsão de<br />
morte e de vida (Laplanche & Pontalis, 1967, p. 338).<br />
O termo “pulsão de agressividade” aparece pela primeira vez<br />
com status de conceito na obra de Alfred Adler, porém Freud resiste à<br />
ideia de uma pulsão agressiva específica e diferenciada. Portanto, não<br />
utiliza o conceito como uma complementação às já estabelecidas pulsão<br />
sexual e pulsão de autoconservação. Freud apenas volta a utilizar o<br />
termo (já como Agressionstrieb) em “Mais além do princípio do prazer”,<br />
quando já está inserido no marco dualista das pulsões de vida e de<br />
morte. O que tem importância, no caso desta pretensa pulsão, é que ela<br />
precisamente é um dos termos que Freud utiliza poucas vezes e sempre<br />
com a marca da diferenciação em relação às pulsões de destruição e de<br />
dominação (Laplanche & Pontalis, 1967, p. 327).<br />
A pulsão de dominação é de difícil tradução do original em<br />
alemão, Bemächtigungstrieb, sendo traduzida de maneiras variadas em<br />
diversas línguas. Laplanche & Pontalis (1967) sugerem pulsão de<br />
apoderamento como a tradução mais fiel ao alemão pelo fato de<br />
bemächtigen significar apoderar-se e dominar pela força. Principalmente<br />
para a leitora habituada a pensar a dominação através do feminismo,<br />
tanto a tradução da palavra quanto o seu uso em português são<br />
enganadores. O conceito inicialmente é utilizado para “una pulsión no<br />
sexual que sólo secundariamente se une a la sexualidad; al cominezo se