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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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de violência contra Sandra. A repetição destas violências indica que seu<br />

efeito não é imediato ou, em termos lacanianos, “não cessa de não se<br />

escrever” (Lacan, 1976-1977), e por isso é repetido sempre que possível,<br />

na tentativa de que a inscrição seja finalmente realizada, mesmo que o<br />

sujeito saiba que, ao fim de toda a violência que comete contra a sua excompanheira,<br />

nada se modifique na maneira como se sente e no que<br />

ocorreu no passado. Nas palavras de Quiron, quando perguntado se<br />

algum dos estupros havia sido prazeroso e se considerava que tê-los<br />

cometido havia sido um ganho para ele na forma de prazer: “não. Cada<br />

vez que eu transava com elas, eu pensava na minha mulher que eu tinha<br />

raiva. Que minha mulher me traiu. Aí eu pensava na minha mulher e<br />

ficava com mais raiva ainda”.<br />

O segundo estupro pelo qual foi condenado à prisão também se<br />

situa numa relação em que houve o que o sujeito considera uma traição.<br />

A vítima foi uma psicóloga que atendeu Sandra; esta psicóloga era<br />

casada com um agente prisional que trabalha na mesma penitenciária<br />

onde Quiron cumpre sua pena, causando diversas situações de risco para<br />

Quiron ali dentro. Este caso foi efetivamente o que o levou a ser preso,<br />

visto que a vítima sobreviveu e obviamente pôde reconhecê-lo após sua<br />

recuperação.<br />

Diferente do estupro da garota de rua, que era uma total<br />

desconhecida, neste caso Quiron manteve um relacionamento com a<br />

vítima antes dos acontecimentos que culminaram com o estupro e com a<br />

tentativa de assassinato, conta a história desta maneira:<br />

Eu fui levar minha mulher ali [no São Lucas]<br />

porque minha mulher tava com depressão, tentou<br />

se matar. Tomou vários remédios. Aí conheci ela.<br />

Até deu um rolo aí dentro, porque ela é mulher de<br />

um agente daqui. Aí ele me ameaçou de morte,<br />

tudo, aí dentro. Aí trabalhei – levei ela, ela deu<br />

umas olhada pra mim; aí, quando eu tô saindo,<br />

ela me dá o telefone dela assim. Fiquei meio<br />

assim, olhei pra ela, me encontrei com ela. Fiquei<br />

uns 3, 4 mês com ela direto. Transando com ela<br />

direto. Aí, quando eu disse pra ela: “ó, não vai<br />

mais dá pra mim vir aqui, minha mulher tá<br />

suspeitando, não sei o quê”, aí ela assim: “é! Se<br />

tu não vim, eu conto pro meu marido, meu marido<br />

é agente!”. Aí eu disse: “vai contar, é?”. Peguei<br />

uma pedra, dei uma pedrada na cabeça dela,<br />

estrangulei ela e estrupei ela.

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