UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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A apelação para uma irracionalidade ou irrepresentabilidade da<br />
violência é trabalhada por Costa (1984), que advoga que “o sujeito pode<br />
agir emocionalmente e com violência, sem que isso exclua a<br />
participação da razão” (ibidem, p. 37). Jurandir Freire Costa (1984, p.<br />
37-38) leva esta hipótese até seu extremo mais radical:<br />
Pode-se argumentar que esta primeira acepção do<br />
“irracional” não coincide com a irracionalidade da<br />
violência. Neste sentido estreito, dir-se-á,<br />
nenhuma conduta é irracional, porque se toma<br />
razão e racionalidade como sinônimo dos<br />
conteúdos da consciência. Ora, salvo nos casos<br />
abertamente patológicos, em que a clareza da<br />
consciência ou sua estruturação normal estão<br />
comprometidas, toda conduta é racional. A<br />
irracionalidade do comportamento violento devese<br />
ao fato de que a razão desconhece os móveis<br />
verdadeiros de suas intenções e finalidades. A<br />
violência é irracional quando e porque se dirige a<br />
objetos substitutivos, na acepção psicanalítica do<br />
termo.<br />
A esquiva para a verdade jurídica também inclui a possibilidade<br />
de o sujeito não ter de simbolizar aquilo que lhe é pedido na entrevista,<br />
assim como se utiliza do outro como forma de explicar a motivação para<br />
cometer o crime. Claro que não podemos tomar a situação apenas como<br />
uma desculpa, no sentido dado por Scully & Marolla (2005). A<br />
descrição detalhada do comportamento do menor demonstra como a<br />
situação era frágil e possivelmente perigosa para os envolvidos,<br />
incluindo Carlos:<br />
Porque eu tava dirigindo o carro; quando eu<br />
olhei, já tava acontecendo. Quando eu olhei pra<br />
trás, ih, nem imaginava. Só tava com a arma na<br />
mão e não tinha feito aquilo ali. A minha reação<br />
ia ser outra. Que quem tava com a arma era ele.<br />
Minha reação ia ser outra, não ia deixar ele<br />
fazer. Não sei o que tinha passado na minha<br />
cabeça naquele momento. No momento, o cara<br />
não sabe a reação do cara, o que o cara pode<br />
fazer. Praticamente ele me obrigou a fazer<br />
também. Pra ele não passar sozinho. [...] Claro,<br />
me ameaçou. Também falou pra mim: “pode fazer