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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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homicídio. Confirmado que fui eu. [...] Não na delegacia, né? Mas que<br />

fui eu. Pessoal lá no Pedregal, onde que eu moro, sabe”.<br />

A confirmação, ou o reconhecimento por parte de outros, é o<br />

que torna a violência cometida representável. O reconhecimento social é<br />

a medida utilizada pelo sujeito em contrariedade àqueles que utilizam de<br />

regras introjetadas. No caso de Quiron, a performatividade parece ainda<br />

mais atrelada ao discurso do que em outros casos, visto que as<br />

enunciações da lei ou da sociedade lhe são sempre necessárias. Com<br />

efeito, são mais do que necessárias: são procuradas por Quiron. Tal<br />

atitude é perfeitamente veiculada por sua explicação do que fazia após<br />

cometer algum crime: ia até o telefone público mais próximo do local do<br />

crime e ligava para a polícia, relatando o crime que havia sido realizado,<br />

onde havia sido realizado e as roupas que estava usando.<br />

Além dos crimes previamente relatados - aqueles que geraram<br />

sua condenação - Quiron relata outros crimes que já cometeu, 17<br />

homicídios e vários assaltos e latrocínios. Quando pergunto sobre o<br />

reconhecimento destes crimes por outros além dele mesmo, responde:<br />

“eles [a polícia] sabe só que não tem prova. Não foi achado a arma do<br />

crime. Toda vez que eu matava alguém, eu usava a arma pra 4<br />

homicídio e jogava fora no rio, daí não tinha como eles achá”. Sobre os<br />

motivos para ter realizado estes assassinatos, fala que a maioria foi em<br />

virtude de drogas ou de acertos de conta:<br />

14 Nome fictício.<br />

139<br />

Ah, tráfico, né? Tráfico. Dinheiro, briga de<br />

gangue, briga de morro, né? Porque eu moro no<br />

morro Ipiranga-Pedregal; aí no meio tem casa<br />

areia, bem no meio, na frente, assim. Aí favela<br />

não se dá, aí, meu... cara que fazia pra nós fazê as<br />

fita, né, que amarrava o cordão pra não acabar o<br />

dinheiro tudo. Elísio 14 tá lá naquela penitenciária<br />

onde tá o Fernandinho Beira-Mar. Pegou 480 ano<br />

de cadeia. Aí ele era o cabeça, né? Aí o que ele<br />

mandava fazer, nóis fazia. Já que era o mais<br />

velho, né, que mandava, único que arrumava o<br />

dinheiro. Onde eu consegui muita coisa... eu<br />

consegui um apartamento, consegui um belo dum<br />

carro, consegui moto. Não precisava trabalhar<br />

sempre tava com dinheiro no bolso. Só que daí<br />

comecei a usar muita droga pesada. Comecei a<br />

fazer umas besteira. Acabei estrupando uma

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