UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Como em entrevistas com outros sujeitos nesta mesma<br />
pesquisa, o posicionamento de Dylan sobre a violência sexual é<br />
completamente radical: é um crime que merece as respostas mais<br />
violentas possíveis da sociedade. Dylan estabelece em uma fala<br />
posterior: “eu não denunciei também pelo... eu me envolvi da forma que<br />
eu achei correta. E diz quebrar ele a pau, entendesse? Então não<br />
conhecia o sistema. Eu acho que hoje eu sei que, se eu botar um homem<br />
desses aqui dentro, ele vai sair pra matar uma criança”. Assim, indica<br />
que o sistema carcerário tem um papel de produtor de novas<br />
criminalidades, assim como reitera sua masculinidade ao se colocar não<br />
como o perpetrador de crimes contra crianças, mas como protetor dos<br />
mais fracos em uma hierarquia social, aspecto relacionado ao Big Oak<br />
descrito por Brennan (1974) e posteriormente utilizado por Kimmell<br />
(Connel et al, 2004). Parte da produção de uma hierarquia social que,<br />
sem dúvida alguma, é trespassada pela hierarquia de gênero.<br />
A maneira como se dá toda a articulação de fatos que termina<br />
com Dylan encarcerado é complexa e traz alguns pontos interessantes<br />
para a análise. Dylan era proprietário e gerente de um estabelecimento<br />
que oferecia o uso de computadores e videogames, assim como alugava<br />
os mesmo aparelhos. A primeira denúncia que ocorreu contra Dylan foi<br />
de receptação de produtos roubados, fato que atribui à concorrência de<br />
outros estabelecimentos em seu bairro que estariam pressionados pelo<br />
crescimento de sua loja (mesmo que não tenha nenhuma evidência<br />
disso). A polícia, então, foi mobilizada e apreendeu equipamentos de<br />
sua loja para análise. Durante a análise, encontraram materiais<br />
pornográficos envolvendo crianças e adolescentes. Destes achados,<br />
partiu a primeira denúncia contra Dylan, que iniciou um processo ao<br />
qual respondeu em liberdade. Durante este ínterim, foi apresentada uma<br />
nova denúncia, desta vez de que havia acariciado as coxas de uma<br />
criança enquanto esta estava em seu estabelecimento comercial. Ao<br />
final, Dylan foi julgado culpado de todas as acusações, exceto do<br />
envolvimento sexual com uma funcionária de 15 anos de sua loja, com a<br />
qual produziu fotos de conteúdo erótico, fato que não produziu acusação<br />
alguma.<br />
Este envolvimento com sua funcionária é descrito por Dylan<br />
por seus frutos em seu processo: “e essa funcionária menor, e eu me<br />
envolvi com essa funcionária; tinha 16 ano, e nós saíamos às vezes.<br />
Curtíamos, né? Mas a coisa é, mais é tesão mesmo, talvez, né? Mas, ah,<br />
isso não vem ao caso, porque isso nem deu nada, né?”. Ou seja, mesmo<br />
que haja um envolvimento sexual e uma atração por uma pessoa muito<br />
abaixo de sua idade – além de menor de idade – , ainda assim isso não