UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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O surgimento do desejo fica, pois, suspenso à<br />
busca, ao “re-encontro” da primeira experiência<br />
de gozo. Mas já a partir da segunda experiência<br />
de satisfação, a criança, tomada no<br />
assujeitamento do sentido, é intimada a<br />
demandar para fazer ouvir seu desejo. É,<br />
portanto, conduzida a tentar significar o que<br />
deseja. Ora, a mediação da nominação introduz<br />
uma inadequação entre o que é desejado<br />
fundamentalmente e o que se faz ouvir deste<br />
desejo na demanda. É esta inadequação, aliás,<br />
que dá a medida do impossível re-encontro do<br />
gozo primeiro com o Outro. Este Outro que fez a<br />
criança gozar, por mais que seja buscado e seu<br />
encontro esperado, permanece inacessível e<br />
perdido enquanto tal, devido à cisão introduzida<br />
pela demanda (Dor, 1992, p. 146).<br />
É nessa relação com o gozo e com o a mais que podemos<br />
encontrar um início de teorização para o que se passa na violência<br />
sexual, caracterizando, assim, um desejo transgressor por um objeto que<br />
não necessariamente vai encaixar-se em um quadro de normatividade.<br />
A interdição do incesto é entendida como o paradigma de limite<br />
– que é comumente referido como forclusão na tradição Lacaniana –, o<br />
que diferencia a ordem do caos e representa a possibilidade de que, entre<br />
um impulso e sua satisfação, se interponha algo, abrindo espaço para o<br />
desenvolvimento de um aparelho mental que opere com representações<br />
(Faiman, 2004, p. 22), assim como também opera a possibilidade do<br />
sujeito de adentrar o registro simbólico, ascendendo, então, ao que nos<br />
referimos por cultura e civilização.<br />
Mesmo após o abandono da teoria da sedução na etiologia das<br />
neuroses, a psicanálise continua utilizando conceitos como o de pulsão<br />
de morte para se referir à agressividade, ao sadismo e à destrutividade<br />
do sujeito (principalmente nos textos de 1920 e 1923). Entretanto, o<br />
papel estruturante das experiências externas e do trauma nunca foi<br />
abandonado (Fagundes, 2004, p. 30). A apropriação destas estruturação<br />
externa é realizada por Butler (1997) através de suas teorizações acerca<br />
sujeito e a linguagem. O gozo é visado num esforço de reencontro através do signo, e portanto<br />
já falha pela impossibilidade de se atingir o objeto já perdido através do signo. Resultando em<br />
uma diferenciação entre necessidade, prazer, desejo e finalmente o gozo. (Kaufman, 1993; Plon<br />
& Roudinesco, 1998)