UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Neste texto também transparece a etiologia da neurose em Freud, ou<br />
seja, como ocorre a estruturação interna no paciente que sofre da<br />
enfermidade: “afirmamos também que os pacientes neuróticos sofriam<br />
de conflitos mentais e que os desejos e inclinações que se expressavam<br />
nos sintomas eram desconhecidos dos próprios pacientes – isto é, eram<br />
inconscientes” (ibid., p. 267). Trata-se de uma visão bastante resumida,<br />
mas que dá conta de informar o pensamento Freudiano deste momento.<br />
Tendo em vista estas reflexões, Freud se pôs a trabalhar sobre uma<br />
possibilidade teórica de entender estas duas diferentes ameaças sem que<br />
isso acarretasse uma nova divisão e categorização, finalmente propondo<br />
uma hipótese unificadora. Afirma, destarte, que a repressão, que vê na<br />
base de cada neurose, seria uma reação ao trauma ou uma neurose<br />
traumática elementar (ibid., p. 263). Esta hipótese é utilizada até os dias<br />
de hoje na compreensão de casos de vítimas de violência, tendo<br />
inclusive criado um novo campo de estudos chamado trauma studies,<br />
que lida exatamente com esta categorização originalmente freudiana em<br />
uma tentativa de descobrir métodos terapêuticos significativos para os<br />
afetados por estas violências, assim como atingir uma compreensão<br />
melhor de como o chamado trauma afeta o aparelho psíquico.<br />
A morte – e, por consequência, a violência – parece criar certa<br />
dificuldade de análise. Esta dificuldade, por sua vez, parece ser o que<br />
transparece em algumas análises que a tomam como um irrepresentável.<br />
Porém, tomar esta dificuldade como uma barreira intransponível seria<br />
relegar o problema para sempre à esfera do incompreensível e imutável,<br />
o que não parece ser nem uma escolha política interessante, nem uma<br />
possibilidade realmente crítica. Freud descreve este mesmo fenômeno<br />
(1915, p. 325):<br />
O aturdimento lógico que a presente guerra<br />
provocou em nossos concidadãos, não poucos<br />
dentre eles sendo o que há de melhor em sua<br />
espécie, constitui, portanto, um fenômeno<br />
secundário, uma conseqüência da excitação<br />
emocional, e está fadado, conforme esperamos, a<br />
desaparecer com ela.<br />
Freud explica esta incapacidade em analisar o que acontecia nos<br />
campos de batalha da primeira guerra mundial por uma paralisia<br />
relacionada à modificação da relação com a morte – que passa de uma<br />
condição negada pela maioria dos sujeitos em uma sociedade pela maior<br />
parte do tempo a uma outra relação, esta sendo uma nova, ainda não