UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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É nos sonhos, nos lapsos do discurso, nas<br />
distorções, nas lacunas e nas repetições do sujeito,<br />
assim como em seus sintomas, que temos que ler<br />
o traço apagado do significante recalcado, que<br />
emerge na linguagem particular que apreende o<br />
desejo inconsciente e que abriga inadvertidamente<br />
um sentido – o do conflito recalcado –<br />
determinando a maneira pela qual o discurso do<br />
sujeito se organiza.<br />
Complementa seu argumento de que seria incapaz de cometer<br />
um crime deste tipo com outros dois pontos: que sua filha era na<br />
realidade uma mentirosa e uma criminosa; e que a educação dos jovens<br />
contemporâneos não inclui o respeito às regras que Esaú preza.<br />
O primeiro argumento envolve os motivos que levaram Esaú a<br />
morar com sua filha mais nova, que por si mesmos são complexos e<br />
entram em choque com os valores de masculinidade propostos por Esaú<br />
na entrevista:<br />
Pra começar, aquela menina nem morava, vivia<br />
comigo. Ela foi criada com a vó dela lá no oeste.<br />
Quando ela entrou – pra tu ver que ela tava<br />
perdida, já –, ajudou a matar uma senhora lá em<br />
Capinzal por causa de 50 real. Ela veio pro São<br />
Lucas, não morava aqui, descobriram onde é que<br />
eu morava, depois me chamaram lá no São Lucas.<br />
A diretoria do São Lucas me chamou lá.<br />
Aqui Esaú elabora como sua filha não compartilha de seus<br />
valores nem pratica aquilo que considera certo, principalmente no que se<br />
relaciona com o trabalho e com a família, assim como delineia sua<br />
inclinação para o crime, que parece colocar-se como pano de fundo para<br />
seus problemas com esta filha.<br />
Aqui aparece também a questão da paternidade, pouco<br />
explorada em outras falas de Esaú. Este demonstra novamente um<br />
aspecto que variados autores (Trindade, 2002; Siqueira et al, 2002)<br />
relatam, qual seja, a importância e centralidade que a paternidade ocupa<br />
como definidora da masculinidade:<br />
...quando me encontraram lá, aí vieram assim: “o<br />
senhor tem uma filha lá, assim, assim, que foi