UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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Mesmo no inconsciente, além disso, um instinto<br />
[pulsão] não pode ser representado de outra forma<br />
senão por uma idéia […]. Quando, não obstante,<br />
falamos de um impulso instintual inconsciente ou<br />
de um impulso instintual reprimido […] referimonos<br />
apenas a um impulso instintual [moção<br />
pulsional] cujo representante ideacional é<br />
inconsciente (Freud, 1915, p. 131).<br />
Neste sentido, o sujeito do inconsciente e do desejo deve ser<br />
situado no nível do sujeito da enunciação:<br />
Com efeito, o eu que enuncia, eu da enunciação,<br />
não é o eu do enunciado, quer dizer, o shifter que,<br />
no enunciado, o designa. Daí que, do ponto em que<br />
enuncio, me é perfeitamente possível formular de<br />
modo válido que o eu – o eu que, nesse momento aí,<br />
formula o enunciado está mentindo, que mentiu um<br />
pouco antes, que mente depois, ou mesmo que<br />
dizendo eu minto, ele afirma que tem a intenção de<br />
enganar (Lacan, 1964 [1998], p. 133).<br />
Este sujeito barrado em Lacan tem uma dupla origem: por um<br />
lado, a incidência do significante no desejo e, por outro, a pulsão<br />
Freudiana. Lacan esclarece esta divisão afirmando que “é o<br />
reconhecimento da pulsão que permite construir, com mais certeza, o<br />
funcionamento dito, por mim de divisão do sujeito, ou de alienação”<br />
(Lacan, 1964 [1998], p. 228).<br />
Emergindo através da linguagem pelos constantes atos de<br />
articulação com significantes e nas hiâncias desta cadeia, aparece uma<br />
singularidade: o sujeito. Todo este processo, no entanto, é articulado<br />
pela enunciação. Esse sujeito advém da linguagem, do ato da articulação<br />
significante (Carvalho, 2008, p. 60).<br />
Ao comentar um dos sonhos que Freud interpreta em sua obra,<br />
no qual um sujeito sonha com seu pai morto mas sem saber, neste<br />
sonho, que ele está morto, Lacan anuncia que:<br />
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Esse ele não sabia, no imperfeito, guarda o campo<br />
radical da enunciação, quer dizer, da relação mais<br />
fundamental entre o sujeito e a articulação<br />
significante. Isso quer dizer que ele não é o<br />
agente, mas o suporte, na medida em que não<br />
saberia mesmo suportar as conseqüências. É na