UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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verifica-se também um fim à supressão das<br />
paixões más, e os homens perpetram atos de<br />
crueldade, fraude, traição e barbárie tão<br />
incompatíveis com seu nível de civilização, que<br />
qualquer um os julgaria impossíveis (Freud, 1974<br />
[1906], p. 316).<br />
Porém, ainda assim o Estado também pratica violências<br />
sancionadas por sua própria estrutura e pela própria manutenção da<br />
mesma, como no caso do encarceramento. Isso coloca um paradoxo para<br />
os sujeitos que aí vivem, portanto<br />
Não se deve objetar que o Estado não pode absterse<br />
de praticar o mal, de uma vez que isso o<br />
colocaria em desvantagem. Não é menos<br />
desvantajoso, em geral, para o indivíduo,<br />
conformar-se aos padrões de moralidade e absterse<br />
de uma conduta brutal e arbitrária; e poucas<br />
vezes o Estado prova ser capaz de indenizá-lo<br />
pelos sacrifícios que exige (Freud, 1915 p. 316).<br />
O movimento civilizatório se apresenta na obra de Freud como<br />
uma constante em seu pensamento, desde suas inspirações arqueológicas<br />
até seus interesses na religiosidade. É certamente um dos tópicos que<br />
aparece com grande frequência em seus escritos, seja nos textos ditos<br />
antropológicos de Freud, seja naqueles em que fala dos mitos fundantes<br />
de nossa sociedade. Ao se confrontar com os horrores da primeira guerra<br />
mundial, Freud tenta explicar como sujeitos pacíficos e considerados<br />
normais dentro de suas sociedades conseguem cometer grandes<br />
atrocidades quando colocados em situações de guerra. Em sua reflexão,<br />
acaba por conceber que, em seu fazer clínico, também encontrava estas<br />
tendências e, assim, postula que<br />
Na realidade, não existe essa ‘erradicação’ do<br />
mal. A pesquisa psicológica - ou, falando mais<br />
rigorosamente, psicanalítica - revela, ao contrário,<br />
que a essência mais profunda da natureza humana<br />
consiste em impulsos instintuais de natureza<br />
elementar, semelhantes em todos os homens e que<br />
visam à satisfação de certas necessidades<br />
primevas. Em si mesmos, esses impulsos não são<br />
nem bons e nem maus. Classificamos esses<br />
impulsos, bem como suas expressões, dessa