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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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era pra ter acontecido nada disso. Nós tava na<br />

Lagoa, tava curtindo aquela noite ali, pô! Bati o<br />

carro, eu bati, foi um acidente. Eu parei, pá, pra<br />

conversar, pra consertar, pra nóis acertar tudo. O<br />

cara que tava comigo que era menor tava<br />

armado. Eu não sabia que ele tava armado. Na<br />

real, eu não conhecia ele. Eu conhecia os outros<br />

dois que tavam junto comigo, sim, esses dois eu<br />

conhecia. O de menor eu não conhecia. Ele que...<br />

ah... falar porra nenhuma... “olha aqui, é um<br />

assalto” e já era [fala rindo], daí pronto. Tava<br />

envolvido, vou fazer o quê.<br />

A justificativa aqui apresentada pelo sujeito de que estaria<br />

envolvido se repete ao longo de toda sua descrição dos eventos e<br />

encaixa-se na categoria de desculpas (excuses) proposta por Scully &<br />

Marolla (2005). O sujeito havia espontaneamente adentrado o assunto<br />

do crime em si na entrevista; e, portanto, sua recusa em detalhar a<br />

situação é, de alguma maneira, paradoxal: “ah, aconteceu. Ah, explicar<br />

o que aconteceu isso aí tudo de novo é o problema. Não quero lembrar<br />

disso daí. Tô tentando esquecer o meu passado”. Esta articulação com o<br />

que fez no passado se relaciona com a negociação da identidade já<br />

levantada por Scully & Marolla (2005) e que encontra reflexos no<br />

trabalho de Machado (2000) ao entrevistar homens condenados por<br />

crimes sexuais no Distrito Federal, revelando que:<br />

O segundo relato de “V”, fala, como já me referira<br />

anteriormente, ao arrependimento que aponta para<br />

um trabalho sobre a interioridade, exatamente,<br />

porque permite o dar-se conta do desejo do outro:<br />

Eu fiquei arrependido na hora que eu tava lá,<br />

fazendo aquilo com a mulher. Eu vi que era<br />

errado e fiquei um pouco lá. Eu comecei a usar a<br />

moça, eu vi que era errado e peguei e saí. Eu<br />

fiquei com dó dela. O terceiro relato aponta para a<br />

dificuldade do empreendimento de qualquer<br />

batalha interior: “Esse negócio eu não penso mais.<br />

Só penso na minha liberdade.. É muito<br />

sofrimento” (Machado, 2000, p. 31).<br />

Não existe apenas uma alteração do estatuto legal do sujeito<br />

apenado por estupro, mas uma consequência que é performativamente<br />

erigida, que dia a dia se sedimenta, produzindo algo de uma

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