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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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180<br />

direto, aí ó. Nunca, nunca passou pela minha<br />

cabeça fazer isso.<br />

Novamente o sujeito alude a uma teoria encontrada no senso<br />

comum, indicando que apenas homens que não têm acesso sexual a<br />

mulheres cometeriam estupro. O que se encontra no subtexto desta<br />

teoria é que os homens teriam uma sexualidade incontrolável. Guerreiro<br />

et al (2002, p. 53) indicam em seu estudo com homens jovens que “um<br />

dos primeiros aspectos que chamam a atenção nas entrevistas e<br />

discussões é o caráter incontrolável, indomável, que os participantes<br />

atribuem à sexualidade masculina, concebida como uma necessidade<br />

que requer satisfação sempre imediata”. O argumento de Carlos baseiase,<br />

então, na hipótese de que, tendo possibilidades de exercer a<br />

sexualidade, a mesma estaria posta em xeque, controlada. O estudo da<br />

pulsão e sua relação com a sexualidade já indica que muitas vezes o que<br />

se procura não é o contato genital em si, mas uma situação construída de<br />

tal forma que a pulsão possa expressar-se no seu circuito ao redor do<br />

objeto; e essa situação específica é diferente de sujeito para sujeito, não<br />

existe uma sexualidade padronizada para todos – cada sujeito constrói<br />

seus próprios circuitos pulsionais. Exatamente este caminho pulsional<br />

parece ter sido ativado no momento em que perpetrou estes crimes,<br />

segundo sua descrição: “empolgacera... ali na hora ali, bebedeira,<br />

empolgacera, adrenalina. Sei lá o que aconteceu na hora, não tem<br />

explicação o que aconteceu. Se pudesse voltar atrás, teria voltado atrás<br />

e não teria feito”.<br />

Diferindo do que falou antes, Carlos admite, neste momento da<br />

entrevista, seu envolvimento prévio com a criminalidade, ao relatar<br />

como, na sua juventude, foi envolvendo-se com roubos e assaltos aos<br />

poucos:<br />

Ah, ter roubado, sim, mas acontecer o que<br />

aconteceu, isso aí não. Sim, roubar, sim, porque,<br />

de menor, tenho passagem pela polícia também.<br />

Tive passagem, né? Porque já foi arquivado.<br />

Morava lá no Oeste ainda. Já roubei um monte,<br />

assaltei – isso aí não vou dizer que eu não fiz,<br />

porque eu fiz. Aí fui, é, respondi processo, tudo,<br />

nove processo. Aí entrou em arquivamento, daí<br />

vim embora pra cá. Aí meu irmão mora numa<br />

favela aqui, começou a ser atendido; aí comecei a<br />

trabalhar com carteira assinada. Aí casei, casei<br />

no civil, tudo certinho. Fui pra lá, que é a

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