12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

172<br />

performatividade da masculinidade atravessam o discurso destes<br />

sujeitos, sempre pelos mesmos temas já identificados por Gutmann &<br />

Vigoya (2005) em sua revisão dos estudos realizados sobre<br />

masculinidade na América Latina: paternidade e família,<br />

homossocialidade, construção da identidade através de condutas<br />

estereotípicas – como nunca chorar, ter de ser o melhor, sempre<br />

competir, ser forte, impossibilidade de envolvimento emocional, nunca<br />

recuar (ibidem, p. 119) –, saúde sexual e reprodutiva, raça e etnia,<br />

trabalho e o próprio machismo.<br />

Neste caso, o que é observado é a utilização do discurso sobre o<br />

trabalho como forma de se vincular à imagem de homem correto, que<br />

aparentemente significa, para este sujeito, que quem trabalha<br />

automaticamente não comete crimes nem se envolve com violência,<br />

muito menos a sexual. A lógica é obviamente falaciosa. Outra<br />

interpretação para essa insistência em se declarar recuperado advém do<br />

estudo de Polaschek & Gannon (2004), que concluem que “geralmente<br />

se presume que agressores sexuais estão preocupados em fazer uma boa<br />

impressão” 22 (ibidem, p. 312; tradução minha). Criar uma boa impressão<br />

parece ser exatamente aquilo que o sujeito tenta fazer de todas as<br />

maneiras. Ao se colocar como um empreendedor, como regenerado,<br />

nada mais faz do que tentar retirar-se do lugar de estuprador. A sua<br />

repetição constante desta enunciação parece incluir um fator de<br />

soslaiamento, de esquiva da própria situação que vive. Quando<br />

perguntado por que motivo acredita estar recuperado, replica:<br />

Porque eu aprendi muitas coisa. Quando eu tava<br />

solto na rua, antes de cometer esse crime. Depois<br />

que foi bobeira minha, palhaçada, né? Nem devia<br />

ter. Entre aspas, né? Não precisaria estar nessa<br />

vida. Sou trabalhador, tenho carteira assinada,<br />

marceneiro. Trabalho, fichar, sempre trabalhei<br />

fichado. Aí eu acho que porque que eu tô<br />

recuperado, porque eu tenho minha família me<br />

acompanhando. Minha mulher, minha mulher não<br />

me abandonou ainda, ainda não, né? Tá me<br />

acompanhando aí até hoje. Tenho um filho...<br />

tenho dois filho, uma filha também. Claro que me<br />

arrependo de ter acontecido, mas foi um ato de<br />

bobeira o que aconteceu. No momento, aí, foi um<br />

ato de bobeira, entendeu?<br />

22 “It is often assumed that sex offenders are concerned with making a good impression”.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!