UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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social pode envolver-se mais diretamente em situações de violência<br />
contra os outros ou contra si mesmo (Alvim & Souza, 2004, p. 44).<br />
Todos os atos de atentado violento ao pudor, assim como o<br />
estupro, localizam-se em uma posição que Lia Zanotta Machado (1998)<br />
descreve como duplicidade de entendimento: como atos de violência<br />
sexual contra a pessoa (crimes contra a liberdade sexual) e atos contra os<br />
costumes. Porém, na legislação são classificados exclusivamente nesta<br />
última categoria. As penas atribuídas aos acusados destes crimes<br />
dependem não do grau de violência utilizado, mas de uma descrição<br />
quase que nosológica dos diversos atos contra os costumes cometidos.<br />
O ato de penalizar é percebido como uma<br />
somatória do número de crimes contra os<br />
costumes, relembrando a busca da descrição<br />
minuciosa e da enumeração da quantidade de atos<br />
pecados cometidos tal como o faziam os<br />
confessores desde o século XVI. A sodomização e<br />
a felação se acrescem em número de anos de pena<br />
ao ato de estupro, como se apenas importasse os<br />
atos cometidos e não por se fazerem contra<br />
direitos de outrem (Machado, 1998, p. 248).<br />
Lia Zanotta Machado (ibid.), ao conduzir uma pesquisa sobre<br />
estupradores, encontrou, em seus discursos, alguns fatores de relevância.<br />
Afirma que o estupro, além de afirmar o lugar masculino como o de<br />
transformar o “não” da mulher em sim tendo papel ativo na sedução,<br />
revela a “fraqueza” dos estupradores em só poderem ter mulheres por<br />
imposição, tendo em vista que, em suas falas, aparece a afirmação de<br />
que tiveram as mulheres que quiseram quando elas igualmente<br />
quiseram, mesmo que judicialmente tenha sido provado o contrário nas<br />
situações que foram levadas ao judiciário (ibid., p. 237). Esta crença no<br />
lugar simbólico da mulher como alvo cujo não desejo seja passível de<br />
ser transformado em desejo parece operar entre os homens uma<br />
generalização (as mulheres sempre dizem “não” quando querem dizer<br />
“sim”) que os leva a considerar universal que esta negativa seja<br />
simplesmente uma abertura para uma transformação. Suas falas<br />
salientam que, se o que fizeram for considerado estupro, então todos os<br />
homens são estupradores, visto que também fazem este movimento de<br />
maneira diferenciada (ibid., p. 239). A autora termina suas afirmações<br />
sobre o discurso destes homens colocando que sua força e seu gozo<br />
residem na transgressão do interdito, pois passam aos olhos dos outros a<br />
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