12.05.2013 Views

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Polaschek & Gannon (2004), em seu estudo sobre as teorias<br />

implícitas fornecidas por criminosos neozelandeses apenados por<br />

estupro, relatam que é comum, entre estes sujeitos, o que chamam de<br />

implicit theories (em tradução livre, “teorias implícitas”) em alguns<br />

temas, nomeadamente: women are unknowable (mulheres são<br />

incompreensíveis), women are sex objects (mulheres são objetos<br />

sexuais), male sex drive is uncontrollable (a pulsão sexual masculina é<br />

incontrolável), entitlement (entitulamento ou direito), dangerous world<br />

(mundo perigoso). Duas das categorias apresentadas na teoria implícita<br />

chamada de “mulheres são objetos sexuais” são rapidamente<br />

reconhecíveis no discurso de Carlos: “frases representando esta teoria<br />

implícita seriam ‘uma mulher pode gostar de sexo mesmo quando este é<br />

forçado’ ou ‘apenas mulheres que são fisicamente violentadas devem se<br />

sentir justificadas em reportar um estupro’” 24 (ibidem, p. 301).<br />

Os autores definem ainda que homens que carregam esta teoria<br />

implícita veem sua própria sexualidade como tendo primazia sobre os<br />

outros e entendem as mulheres como estando constantemente receptivas<br />

para o sexo. Estes homens desconsideram o discurso e tendem a<br />

compreender a linguagem corporal como mais relevante do que o<br />

consentimento via fala. Consequentemente, como as mulheres são<br />

objetos sexuais, elas não poderiam ser danificadas por vias sexuais,<br />

apenas por violência física (Polaschek & Gannon, 2004). Praticamente<br />

todas estas características são relatadas pelo sujeito em algum momento<br />

das falas já transcritas neste trabalho, desde considerar que a vítima<br />

estava gostando pela sua reação – “a outra ria ainda, tem uma que dava<br />

risada. [...]É. Dava risada. É, teve uma que riu lá um monte. Acho que,<br />

na hora, assim, ela não tinha caído em si. A hora que ela caiu em si,<br />

não sei a reação dela”.<br />

A alienação incluída na enunciação de que não saberia o que se<br />

passa na cabeça de uma pessoa após sofrer um roubo e um estupro<br />

parece estar ainda conectada ao movimento identificado por Marshall &<br />

Moulden (2001) em seu estudo junto a estupradores, criminosos não<br />

sexuais e não criminosos em que um grau maior de empatia em relação<br />

às mulheres foi negativamente vinculado à propensão ao estupro,<br />

significando que homens que têm maior dificuldade em se identificar<br />

com o que mulheres estão sentindo têm uma maior chance de cometer<br />

24 “Statements representing this IT would be ‘a woman can enjoy sex even when it is<br />

forced upon her’; or ‘only women who are physically beaten should feel justified in<br />

reporting a rape’”.<br />

185

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!