UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC
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do que capturam do social; o que suas constituições assujeitadas às<br />
regras sociais e à língua implicam nos casos de violência sexual.<br />
Com efeito, seria impossível pensar a pesquisa apresentada<br />
nesta dissertação se não houvesse a preocupação, desde o início do<br />
trabalho, de simplesmente ouvir estes homens. O uso de estudos de caso<br />
se mostrou importante neste sentido, pois a própria multiplicidade<br />
encontrada durante as entrevistas demonstra a dificuldade de se ater a<br />
preceitos positivistas que defendem a padronização e a análise destes<br />
homens como meros objetos de estudo. Em se tratando de crimes que<br />
têm por base o desejo e atravessados por convenções sociais, não<br />
haveria a possibilidade de analisá-los de outra maneira sem que se<br />
perdesse uma miríade de detalhes que, ao fim das contas, acabam por<br />
construir uma figura muito mais detalhada do que seria possível com<br />
outros métodos.<br />
A falta de escuta por parte das instituições do Estado não é uma<br />
tendência contemporânea, mas acaba por ser mais um dos sofrimentos<br />
que se redobram para estes homens condenados por crimes sexuais.<br />
Neste sentido, quando perguntados se gostariam de ter a possibilidade<br />
de realizar um grupo de homens apenados por violência sexual, grande<br />
parte dos entrevistados se mostrou interessada, ressaltando as<br />
dificuldades que encontram para receber algum tipo de atendimento<br />
psicológico dentro da penitenciária – fato corroborado pelos psicólogos<br />
da mesma, que citam a dificuldade de lidar com a quantidade enorme de<br />
apenados residentes na penitenciária com apenas 3 profissionais. Os<br />
sujeitos relatam também as estratégias que estabelecem, como o suporte<br />
entre sujeitos apenados pelos mesmos crimes, as confissões do que<br />
sentiam quando cometeram os crimes pelos quais foram presos,<br />
conversas com outros presos na tentativa de compreender se outros se<br />
sentiam da mesma maneira e outras situações diversas. A demanda tanto<br />
de escuta quanto de um grupo de homens existe e deve ser endereçada.<br />
Esta abertura existente em suas falas denota não só um interesse em<br />
demonstrar bom comportamento, como estudos como o de Polaschek &<br />
Gannon (2004) citam, mas também a possibilidade de exercer aquilo<br />
que Butler entende como ressignificação radical. Se temos sujeitos<br />
apenados por crimes violentos sexuais – os quais causam angústia ímpar<br />
para as mulheres e homens de nossa sociedade – e que desejam não<br />
realizar novamente tais atos, deixar de oferecer maneiras para que<br />
tentem modificar o que entendem por uma performatividade masculina<br />
acaba por tornar-nos também cúmplices de seus crimes, em certa<br />
medida. Nosso coletivo desejo de ignorar estes homens (expresso<br />
claramente pelo seu aprisionamento) acaba por também tolher suas