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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA ... - CFH - UFSC

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melhor o uso da palavra por Freud, de maneira que se integre com a<br />

produção de conhecimento atual. A noção de instinto e a noção de<br />

pulsão em Freud, afinal, já foi criticada em variadas obras e constitui um<br />

erro de tradução conhecido da Trieb. Convém alertar que atualmente a<br />

tradução aceita de Trieb é pulsão.<br />

Freud inicia sua resposta a Einstein em “Por que a Guerra?”<br />

afirmando que concorda com ele em sua suposição de que a violência é<br />

resultado de um conflito de interesses – o que podemos dizer que é uma<br />

derivação da leitura contratualista, que é subliminar ao próprio “Totem e<br />

Tabu”.<br />

Porém, temos de nos haver com o fato de que já em Ferenczi<br />

temos outra visão, e uma bastante propagada: a de que a violência é<br />

constitutiva do sujeito, assim como da sociedade. Gostaria de fazer uma<br />

breve crítica a essa visão, pois, se considerarmos que a assunção do<br />

sujeito ao Simbólico e à cultura que se dá no Édipo é violenta,<br />

estaremos, então, advogando que a sociedade e a cultura não existem e<br />

que um estado de selvageria (e note-se a ironia da palavra utilizada)<br />

seria menos violento que a civilização como a conhecemos. Proponho,<br />

então, que se entenda a entrada do sujeito na cultura como meramente<br />

arbitrária, mas não violenta.<br />

Outra teoria que circula e que também tem suas origens nos<br />

primeiros escritos psicanalíticos é o de que toda pulsão sexual para a<br />

criança é violenta, pelo fato de que extrapola suas possibilidades<br />

psíquicas de lidar com esse excesso. Ora, não é exatamente essa pulsão<br />

que institui o desejo no conhecido processo da saída da necessidade para<br />

o desejo, a demanda e posteriormente (e em decorrência) o gozo?<br />

Novamente, não podemos atribuir uma qualidade violenta a uma etapa<br />

extremamente necessária para a criança e sem a qual esta não faria a<br />

mais humana das ações: desejar.<br />

Como definir a violência, então? Como escapar ao imbróglio<br />

com a agressividade? Como escapar de um conceito que se tornou tão<br />

polissêmico que a tudo engloba? No final, a resposta não é tão<br />

complexa: como afirma Jurandir Freire Costa, “a violência se define<br />

quando existe o desejo de destruição do outro”. A esse conceito, eu<br />

ainda agregaria que também se produz violência quando se assujeita<br />

outro sujeito, quando tornamos o outro objeto e dele usufruímos (sim,<br />

são outras formas de destruição, mas que muitas vezes escapam aos<br />

incautos).<br />

Outro ponto interessante é a relação entre a violência e o Outro.<br />

Na antropologia, costuma-se dizer que a violência é sempre exercida<br />

contra o estrangeiro, aquele que está fora do campo de reconhecimento<br />

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