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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 1<br />

“Ao dizer que atos viciosos contrários aos costumes humanos devem ser evita<strong>do</strong>s,<br />

nós levamos em conta a variação <strong>do</strong>s hábitos de comportamento, ou seja: a<br />

convenção mutuamente concordada de uma cidade ou nação, confirmada pelo<br />

costume ou pela lei. Nesse caso, qualquer pessoa que caia fora desse padrão<br />

torna-se completamente inaceitável para a sociedade.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Meu pai olhou-me deita<strong>do</strong> no pequeno berço e não resistiu. Colocou-me em seus braços,<br />

levou- me até o canto daquele amplo cômo<strong>do</strong> da casa da vovó Zezé e ficou sem saber o que fazer.<br />

Ele fora católico até os 26 anos, quan<strong>do</strong> tomara uma decisão: seria agnóstico até que alguma coisa<br />

profundamente espiritual lhe trouxesse a certeza de que Deus era Deus, e não uma mera<br />

abstração. Por isso mesmo, ele não podia entender o que lhe estava acontecen<strong>do</strong>.<br />

Sua alma fora totalmente impregnada pela idéia <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong>. Era como se o próprio Deus<br />

tivesse invadi<strong>do</strong> os aposentos daquela casa e feito uma convocação irresistível a papai. Lá estava<br />

ele, um tanto desequilibra<strong>do</strong>, tentan<strong>do</strong> manter-me no colo nos meus <strong>do</strong>is dias de vida neste<br />

planeta. A muleta sobre a qual se apoiava não lhe permitia ter certeza de que me carregaria sem<br />

me machucar. Mas a força que vinha de dentro de sua alma era mais forte. Era como uma ordem.<br />

Ele não tinha outra opção a não ser obedecê-la.<br />

Tomou-me nos braços, ergueu-me ao céu e disse: “Deus, se Tu existes e estás aqui neste<br />

quarto, ouve a minha voz. Eu Te dedico o meu filho, meu primogênito, e peço que faças dele um<br />

homem de Deus, um sacer<strong>do</strong>te, alguém que carregue a Tua marca em sua vida. Mas peço que Tu<br />

não o prives <strong>do</strong> privilégio de ter família, de criar filhos e de conhecer o amor por uma mulher. Por<br />

isso, mesmo sem saber por que Te peço, por favor, Deus, faze dele um <strong>pastor</strong>. Assim, ele poderá<br />

conhecer a alegria que eu estou sentin<strong>do</strong> neste momento, de levantar meu filho nos braços, e será<br />

também capaz de conhecer este estranho sentimento de proximidade da divindade, que, como<br />

nunca antes, me invade agora to<strong>do</strong> o ser.”<br />

Ninguém jamais ficou saben<strong>do</strong> o que ele havia feito comigo naquele dia. Também nem ele e<br />

nem ninguém poderia imaginar que aquele gesto estava marca<strong>do</strong> com a força divina das<br />

profecias. Eu sei que minha existência encontrou seu senti<strong>do</strong> e sua explicação histórica naquela<br />

oferenda agnóstica de meu pai, dedican<strong>do</strong>-me a um Deus que ele não tinha certeza se existia.<br />

Somente 21 anos depois daquela oração ao pôr-<strong>do</strong>-sol é que eu viria a saber que minha vida nada<br />

mais era <strong>do</strong> que a materialização de um desejo sagra<strong>do</strong>, de uma duvi<strong>do</strong>sa, porém apaixonada,<br />

oração paterna, e de uma vontade transcendente... de uma profecia <strong>do</strong> amor.

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