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Confissões do pastor - Caio Fábio

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no centro de tu<strong>do</strong>. Enquanto isso, papai tremia de gozo e alegria. Era um sentimento de outra<br />

dimensão. Ele jamais provara nada igual. De súbito, ouviu uma voz estrondean<strong>do</strong> sobre ele:<br />

“<strong>Caio</strong>, <strong>Caio</strong>. Eis que te <strong>do</strong>u <strong>do</strong>is ministérios neste mun<strong>do</strong>: tu curarás enfermos e expelirás<br />

demônios.” Papai ficou ali, imóvel, na cama, possuí<strong>do</strong> pelas percepções de camadas da existência<br />

que transcendiam a tu<strong>do</strong> o que ele jamais pudera sentir, pensar, desejar ou imaginar.<br />

No dia seguinte, levantou-se ce<strong>do</strong> e ficou andan<strong>do</strong> pela casa, sozinho. O gozo dera lugar a um<br />

enorme peso. Um senso de dever o esmagava. Mas ele não sabia onde, como e nem para quem se<br />

dirigir. Começou a dizer: “Jesus, se Tu estás me chaman<strong>do</strong> para trabalhar para Ti, diz-me como<br />

e onde. Eu já não sou mais jovem e tenho família para criar. Mas se Tu me chamas, eu largo tu<strong>do</strong>.<br />

O que eu quero é provar sempre essa alegria de conhecer a Ti.”<br />

Enquanto ele andava pela sala, seu olhar pousou sobre um quadro amazônico que mamãe<br />

pendurara numa das paredes da casa. Mas seus olhos, entretanto, não viram o quadro, mas um<br />

indiozinho que, nostalgicamente, remava uma canoa feita de um tronco de árvore, que deslizava<br />

suave por entre as árvores de um igapó.<br />

Igapós são alagações <strong>do</strong> rio na floresta, na estação das chuvas, no Amazonas.<br />

O cenário era o mesmo ao qual ele se acostumara quan<strong>do</strong> viajava para o seringal <strong>do</strong> Santo<br />

Antônio <strong>do</strong> Cainaã. Tu<strong>do</strong> estava de volta. As vozes e os clamores da floresta estavam ainda<br />

presentes e faziam apelos de força irresistível à sua alma.<br />

Quan<strong>do</strong> a família voltou para casa, ele comunicou à mamãe que Deus tinha fala<strong>do</strong> com ele e<br />

que o estava compelin<strong>do</strong> a voltar à sua terra natal, a fim de evangelizar seus conterrâneos<br />

desesperança<strong>do</strong>s.<br />

Mamãe ouviu com um misto de alegria e preocupação. Como é que isso aconteceria sem<br />

profun<strong>do</strong>s traumas para as crianças, especialmente para mim? Tinha si<strong>do</strong> horrível sair de lá. Mas<br />

agora, quem queria voltar? Aos 45 anos, como ele iria sustentar a família, sempre acostumada ao<br />

conforto? E como ele viabilizaria esse seu chama<strong>do</strong> junto à igreja? Iria para o seminário? Mas<br />

como? Já não era tarde para largar tu<strong>do</strong> e ir para uma escola de teologia por quatro anos?<br />

Contar isso para nós é que seria o problema. Suely e Luiz, entretanto, eram pessoas bem<br />

mais cordatas <strong>do</strong> que eu e aceitaram — não sem alguns choramingos — que a volta para Manaus<br />

poderia ser boa. Eu fui o último a saber e, quan<strong>do</strong> soube, fiquei com vontade de matar papai.<br />

“Que desgraça<strong>do</strong>! Ferra a gente para sair de lá e agora, em nome de Deus, ferra a gente pra voltar.<br />

Eu não. Num vou nem morto”, foi o que pensei e falei para a mamãe, a infeliz porta<strong>do</strong>ra da<br />

mensagem.

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