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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 15<br />

“Que podridão! Que vida monstruosa e que morte abissal! Será possível ter prazer<br />

no ato ilícito por nenhuma outra razão a não ser por ser ele proibi<strong>do</strong>?”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Papai procurou o reveren<strong>do</strong> Antônio Elias e comunicou sua intenção de voltar ao Amazonas<br />

como missionário. No início o amigo e <strong>pastor</strong> ainda tentou demovê-lo da idéia por duas razões:<br />

achava que o Dr. <strong>Caio</strong> tinha potencial demais para ser enterra<strong>do</strong> no meio da floresta e, confessou,<br />

preocupava-se com a família dele, especialmente com o filho mais velho, que já dava claras<br />

indicações de incontrolável rebeldia.<br />

Além disso, Antônio Elias não sabia se a burocracia denominacional não acabaria<br />

“burramente” forçan<strong>do</strong> papai a ir ao seminário, desperdiçan<strong>do</strong>, assim, mais quatro anos de sua<br />

vida, os quais precisavam ser bem usa<strong>do</strong>s no trabalho de Deus.<br />

Papai, entretanto, foi logo dizen<strong>do</strong> que, se aquela fosse a condição para que pudesse ser<br />

envia<strong>do</strong> como missionário da Igreja Presbiteriana, ele já havia decidi<strong>do</strong> ir por conta própria.<br />

“Afinal”, dizia ele, “não foi a Igreja quem me salvou, foi Jesus. E foi len<strong>do</strong> a Bíblia sozinho que a<br />

luz me iluminou. Não preciso ser um teólogo para anunciar às pessoas o mesmo amor livre e<br />

simples de Deus que me alcançou.” Esse era o seu veredicto. Afinal, ele não chegara até aquele<br />

ponto da vida tutela<strong>do</strong> por ninguém, e não seria agora, quan<strong>do</strong> sua alma estava mais livre <strong>do</strong> que<br />

nunca, que ele aceitaria o cabresto de uma instituição religiosa.<br />

De algum mo<strong>do</strong> os <strong>pastor</strong>es da cidade sabiam disso e decidiram enquadrá-lo num artigo da<br />

constituição da Igreja Presbiteriana que autorizava o presbitério — a instância local da hierarquia<br />

da igreja — a ordenar ministros de vocação tardia, mesmo que esses não tivessem o curso formal<br />

<strong>do</strong> seminário. Além <strong>do</strong> mais, pouquíssimos ministros evangélicos no Brasil dispunham da<br />

formação acadêmica e da bagagem cultural de papai. Por isso, ofereceram-lhe um curso breve,<br />

designaram-lhe o reveren<strong>do</strong> Antônio Elias como supervisor teológico e pediram que ele<br />

escrevesse uma tese teológica até o fim de 1970, quan<strong>do</strong> então eles o ordenariam <strong>pastor</strong>. E foi o<br />

que aconteceu.<br />

Quan<strong>do</strong> eu percebi que não havia nada que demovesse papai da idéia de retornar ao<br />

Amazonas, enlouqueci com todas as minhas forças. Um ódio estranho, cheio de desprezo,<br />

começou a crescer em mim em relação a to<strong>do</strong>s eles: papai, mamãe e a gente da igreja —<br />

orgulhosos que estavam de terem apanha<strong>do</strong> um peixe grande, que agora se candidatava a São<br />

Francisco, queren<strong>do</strong> viver de mo<strong>do</strong> monástico no meio da floresta. “Ele podia fazer o que<br />

quisesse”, eu pensava, “mas que fosse sozinho. Podia viver como pobre, mas que nos deixasse

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