23.04.2013 Views

Confissões do pastor - Caio Fábio

Confissões do pastor - Caio Fábio

Confissões do pastor - Caio Fábio

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

diferente disso tu<strong>do</strong>. Olha, Jesus não cabe na instituição religiosa. Se estivesse aqui hoje, teria<br />

que pregar na rua porque dentro das igrejas não deixariam — falei. — As companhias dele eram<br />

ruins demais pros santos da igreja.<br />

— A gente tem que se encontrar — disse Nilo muito sério.<br />

Quinze dias depois, Nilo, Verinha e os filhos estavam lá em casa para um churrasco.<br />

Conversamos sobre as chacinas da Candelária e de Vigário Geral e outros casos. Depois falamos<br />

de fé e de mudança de vida. E para terminar, a filha de Nilo me perguntou sobre o assunto <strong>do</strong><br />

momento nas telenovelas: espíritos e possessão de demônios. Contei um monte de histórias,<br />

enquanto as crianças, os a<strong>do</strong>lescentes e os adultos ouviam com atenção. Depois demos as mãos e<br />

oramos juntos.<br />

Ali, sem nenhuma liturgia, eu orei abençoan<strong>do</strong> a união de Nilo e Verinha, em nome de Jesus.<br />

No fim de tu<strong>do</strong>, eles foram para casa felizes.<br />

Daquele dia em diante, Nilo e eu nos encontramos pelo menos duas vezes por semana e<br />

conversamos muito sobre Jesus e os evangelhos. Falei-lhe bastante sobre os pressupostos<br />

teológicos da reforma protestante e a centralidade da salvação pela Graça exclusiva de Cristo. Ou<br />

seja: não é o que fazemos ou somos o que nos salva, mas a nossa fé no que Jesus fez por nós o que<br />

faz a diferença.<br />

— Era só isso que faltava pra minha conversão — disse Nilo a uma amiga comum, Lucilia,<br />

após me ver toman<strong>do</strong> gostosamente um copo de vinho. — Só um <strong>pastor</strong> capaz de apreciar um<br />

bom Porto teria autoridade pra me batizar — afirmou brincan<strong>do</strong>, mas talvez falan<strong>do</strong> mais sério <strong>do</strong><br />

que nunca na vida.<br />

— Quan<strong>do</strong> você quiser, meu irmão — respondi ao ouvir sua declaração.<br />

— Deixa passar só um pouquinho mais pra gente encontrar uma hora mais calma — disse<br />

ele. A hora mais calma jamais chegaria.<br />

O Natal de 1993 foi muito especial para mim. Celsinho, meu amigo de primeira juventude, a<br />

quem eu não via desde 1973, estava no Rio fazen<strong>do</strong> uma especialização em oftalmologia.<br />

— Celso, é <strong>Caio</strong>. Quero ver você. Cê num quer vir passar o Natal com minha família? —<br />

perguntei ao telefone, vinte anos depois, para alguém que no passa<strong>do</strong> me fora muito importante.<br />

Quan<strong>do</strong> nos vimos em frente ao Niterói Plaza Shopping, na tarde <strong>do</strong> dia 24 de dezembro,<br />

instintivamente levantamos o braço direito e fizemos com os de<strong>do</strong>s da mão o V de paz e amor com<br />

o qual nos saudáramos centenas de vezes na juventude.<br />

Só que agora eu era <strong>pastor</strong>, estava casa<strong>do</strong>, tinha quatro filhos e pesava cerca de cem quilos.<br />

Ele, por sua vez, estava calvo, se vestia com discrição inconcebível no passa<strong>do</strong> e mostrava um ar de<br />

profunda circunspecção.<br />

Passamos o Natal nos reapresentan<strong>do</strong> um ao outro e às nossas famílias. E a pergunta que<br />

mais nos fizemos foi: “Lembra de...?”<br />

Sim, nós nos lembrávamos de tu<strong>do</strong> e de to<strong>do</strong>s.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!