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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 5<br />

“Meus estu<strong>do</strong>s, os quais eram considera<strong>do</strong>s respeitáveis, tinham o objetivo de me<br />

levar à distinção como advoga<strong>do</strong> nas cortes de justiça, onde a reputação de um<br />

homem é tão alta quanto seu sucesso na arte de enganar pessoas.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Em 1948, aos 21 anos, meu pai entrou para a Faculdade de Direito <strong>do</strong> Amazonas, que<br />

funcionava em um prédio construí<strong>do</strong> em estilo europeu. De lá se podia ver perfeitamente o<br />

movimento <strong>do</strong>s barcos que atracavam no porto. Aquele era um <strong>do</strong>s lugares mais movimenta<strong>do</strong>s<br />

da cidade de Manaus. Eram pessoas entran<strong>do</strong> aos montes nos “motores de linha”, nome da<strong>do</strong> aos<br />

barcos de madeira que carregavam um número de pessoas em geral bem superior ao que se<br />

esperaria que uma embarcação daquele tamanho pudesse suportar.<br />

O fato é que os motores saíam apinha<strong>do</strong>s de gente porque a “rede de <strong>do</strong>rmir” era o<br />

instrumento de descanso mais usa<strong>do</strong> pela população. Assim, usan<strong>do</strong> a rede, era possível<br />

“montar” até cinco “andares” de pessoas <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> umas sobre as outras nos barcos, o que<br />

aumentava não apenas a capacidade de transporte das embarcações, mas principalmente o perigo<br />

da viagem. E não era raro que tragédias acontecessem, com a perda de um extraordinário número<br />

de vidas humanas.<br />

Ali de cima <strong>do</strong> prédio da faculdade de direito, o universitário <strong>Caio</strong> podia aprender leis e<br />

filosofia sem jamais esquecer suas obrigações familiares com a gerência <strong>do</strong> seringal <strong>do</strong>s Araújos.<br />

O ritual de estudar o ano to<strong>do</strong> e passar as férias no interior, cuidan<strong>do</strong> <strong>do</strong>s negócios, permaneceu<br />

até mesmo depois de termina<strong>do</strong> o curso.<br />

E logo no início de sua experiência na faculdade, <strong>Caio</strong> viu-se diante de um acontecimento<br />

desastroso, que poderia ter servi<strong>do</strong> de forte desestímulo à conquista de seu espaço no mun<strong>do</strong><br />

universitário. Certo dia, ao deixar a classe e dirigir-se à saída principal <strong>do</strong> prédio, que dava para<br />

uma larga e íngreme escadaria, construída num modesto, porém claramente defini<strong>do</strong>, estilo<br />

romano de fóruns, <strong>Caio</strong> percebeu que muita gente subia e descia simultaneamente as escadas.<br />

Ele parou, pensou se deveria esperar aliviar o fluxo e, por fim, decidiu correr o risco de descer<br />

sem apoio, vez que não havia qualquer adaptação <strong>do</strong> ambiente ao deficiente físico.<br />

Começou a descer e percebeu que não haveria nenhum problema. Quan<strong>do</strong> já estava no meio<br />

das escadarias, alguém passou corren<strong>do</strong> e, sem qualquer cuida<strong>do</strong> com a fragilidade de seu<br />

equilíbrio, deu-lhe um forte esbarrão. <strong>Caio</strong> sentiu seu corpo precipitan<strong>do</strong>-se para a frente e<br />

percebeu que não havia meios de impedir a queda. Restava-lhe, apenas, cair da melhor maneira<br />

possível.

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