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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Caí dentro d’água de joelhos e orei. Falei com meu Cria<strong>do</strong>r e me batizei sozinho nas águas da<br />

floresta. Derramei o líqui<strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> sobre minha cabeça. Em seguida, mergulhei e fiquei sob a<br />

água o máximo que pude. Quan<strong>do</strong> tomei ar, de volta à superfície, senti como se algo novo tivesse<br />

si<strong>do</strong> planta<strong>do</strong> no terreno mais fértil de meu ser. Virei de frente para o céu azul e afoguei meus<br />

ouvi<strong>do</strong>s dentro da água. Fez-se um silêncio total à minha volta e uma paz indescritível me<br />

inun<strong>do</strong>u a alma. Naquele momento, pedi a Deus para morrer ali, nos portões <strong>do</strong> Paraíso.<br />

Quan<strong>do</strong> corri de volta para o início da trilha, havia um sentimento de novidade de vida dentro<br />

de mim. No caminho percebi a aproximação de uma ex-namoradinha minha e seu atual<br />

namora<strong>do</strong>. Eles vinham montan<strong>do</strong> lin<strong>do</strong>s cavalos de raça e se aproximavam num belo galope.<br />

Quan<strong>do</strong> me viram, pararam ao meu la<strong>do</strong>.<br />

— Ei, seu <strong>Caio</strong>, a gente tem uma mutuca de maconha aqui. Tá a fim dum basea<strong>do</strong>? — disse<br />

Sérgio, enquanto Dê me olhava com a surpresa de quem não me encontrava desde o dia em que<br />

fui à casa dela pela última vez, <strong>do</strong>is anos antes.<br />

Não sabia o que responder. De alguma forma, entretanto, eu sabia que nunca mais na vida<br />

apertaria um basea<strong>do</strong>. Afinal, de algum mo<strong>do</strong>, aquela erva perdera, milagrosamente, to<strong>do</strong> o seu<br />

encanto para mim. Aliás, foi só ali que me apercebi que aquele era o primeiro dia, em pelo menos<br />

quatro anos, que eu não havia senti<strong>do</strong> nenhuma fissura pela maconha ou qualquer outra forma de<br />

entorpecente.<br />

— Seu Serjão, aquele <strong>Caio</strong> que fumava maconha, cheirava pó e outras coisas morreu ontem e<br />

eu acabei de sepultá-lo num igarapezinho a uns três quilômetros daqui. Esse cara que tá aqui, na<br />

tua frente, num fuma maconha e nem toma drogas. E mais: ele também num qué mais saber de<br />

maluquice. E quem num respeitar a ele, vai entrar no pau — concluí <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> “mais cristão” que<br />

eu sabia.<br />

Sérgio me olhou assusta<strong>do</strong>, como se tivesse visto um ghost no meio da floresta.<br />

— É, bicho, agora é qui tu tá <strong>do</strong>i<strong>do</strong> mermo, cara. Que barato é esse qui tu tá toman<strong>do</strong>? —<br />

perguntou sem ficar para ouvir a resposta.<br />

Dê, a ex-namoradinha, olhou-me com estranheza, quase com desprezo, manobrou o animal e<br />

disparou. Sérgio fez o mesmo, galopan<strong>do</strong> atrás dela. Eu, de minha parte, montei na máquina e<br />

voltei para casa, celebran<strong>do</strong> a minha primeira “vitória cristã”.

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