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Confissões do pastor - Caio Fábio

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políticos e repórteres para to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Eu e Lucilia ficamos de longe.<br />

— Que massacre, <strong>Caio</strong>. Que horror será essa posse! — disse Lucilia preocupada com o<br />

clima.<br />

Nilo veio entran<strong>do</strong> sob as luzes e os microfones. Eram perguntas de to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. As vozes<br />

se misturavam de tal mo<strong>do</strong>, que nem dava para entender direito o que a multidão dizia.<br />

— Nilão, meu irmão — falei sem esperança de ser ouvi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ele passou a uns cinco<br />

metros de nós. Nilo parou e me procurou no meio da multidão. Saiu de seu caminho e veio em<br />

minha direção. Abraçamo-nos com fraternidade e compromisso afetivo ali no meio de to<strong>do</strong>s. —<br />

Vai firme, irmão. Vai firme porque Jesus tá contigo — falei discretamente, mas sem sussurrar.<br />

A posse aconteceu e o massacre continuou. Depois fiquei saben<strong>do</strong> que a história <strong>do</strong> nome de<br />

Nilo na lista <strong>do</strong> bicho poderia ter relação com uma <strong>do</strong>ação feita por um banqueiro à ABIA,<br />

instituição de apoio a aidéticos da qual Nilo era conselheiro e Betinho o funda<strong>do</strong>r. Mas como a<br />

explicação envolvia Herbert de Souza, uma das figuras mais inatacáveis da nação, em vez de<br />

esclarecer os fatos, apenas os turvou ainda mais.<br />

— Nilo, deixa esse pessoal provar o que está dizen<strong>do</strong>. Você sabe que não recebeu nada. Não<br />

fica se defenden<strong>do</strong>. Olha, o prefeito César Maia e o ex-prefeito Marcello Alencar também têm<br />

seus nomes na tal da lista. Mas como estão cala<strong>do</strong>s, vão ser esqueci<strong>do</strong>s. Não fica aí se defenden<strong>do</strong><br />

por que isso atrapalha você — falei muitas vezes.<br />

Mas o problema era que Nilo sabia que aquilo era uma tremenda injustiça que estavam<br />

fazen<strong>do</strong> com ele e não podia admitir que o nome que ele construíra com tanto esforço fosse<br />

enlamea<strong>do</strong> tão perversamente. Se Nilo fosse um político de carreira, aquilo não o teria<br />

machuca<strong>do</strong> tanto. Mas como ele tinha outra história, ten<strong>do</strong> ganha<strong>do</strong> a vida como um <strong>do</strong>s mais<br />

brilhantes criminalistas <strong>do</strong> Brasil e como intelectual, aquela controvérsia o feriu com um poder<br />

devasta<strong>do</strong>r.<br />

Um grupo de amigos fiéis esteve sempre presente, dan<strong>do</strong> a ele e a Verinha a certeza de que<br />

não estavam sós. Com pressões de to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s, Nilo encontrou na leitura da Bíblia e nas<br />

orações seu refúgio pessoal. Começou a ir aos cultos da Catedral Presbiteriana <strong>do</strong> Rio e decidiu<br />

instituir um culto semanal no palácio, todas as segundas-feiras. Além disso, achou que não era<br />

justo que o cardeal <strong>do</strong>m Eugênio Salles fosse o único líder religioso com acesso à rede <strong>do</strong> telefone<br />

vermelho pelo qual ele podia chamar o governa<strong>do</strong>r e to<strong>do</strong>s os secretários de esta<strong>do</strong> a hora que<br />

quisesse. “Vou instalar telefones vermelhos na AEVB e no Rabinato também”, disse ele e fez o<br />

que prometeu alguns dias depois.<br />

Em maio de 1994 batizei o governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, Nilo Batista, e sua esposa, Vera Malagute<br />

Batista, na sala de sua casa, no morro de Santa Teresa. Foi uma cerimônia simples, presenciada<br />

apenas por uns poucos amigos de fé. Depois conversamos até de madrugada e fizemos votos de<br />

felicidade uns aos outros. Enquanto isso, a luta continuava em todas as frentes. A campanha<br />

presidencial se acirrava, a violência no Rio era maximizada e já se falava em intervenção militar no<br />

esta<strong>do</strong>.<br />

Quanto a mim, estava tão “toma<strong>do</strong> de coisas”, que a sensação que me dava era a de que eu<br />

estava viven<strong>do</strong> dentro de uma câmara de lapso de tempo. A cada dia acontecia de tu<strong>do</strong>. Eram<br />

repórteres queren<strong>do</strong> ver se chegavam ao governa<strong>do</strong>r por meu intermédio; outros queriam que eu<br />

os ajudasse a entrevistar Gregório, o Gor<strong>do</strong>, ou Escadinha; outros, ainda, desejavam saber se eu<br />

era alia<strong>do</strong> político de Lula ou Brizola. E ainda havia o contingente que desejava me entrevistar em<br />

razão de temas diversos, com os quais me envolvi sem nem bem perceber: arbitrariedade da<br />

polícia, direitos <strong>do</strong>s favela<strong>do</strong>s, situação da população carcerária, crescimento da violência urbana,<br />

liberação ou não das drogas e, de quebra, o tema <strong>do</strong> crescimento vertiginoso <strong>do</strong>s evangélicos.<br />

Naqueles dias, lançamos também a Cartilha evangélica <strong>do</strong> voto ético. A tal cartilha gerou mais

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