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Antes da minha conversão à fé, dentre os meus amigos havia <strong>do</strong>is irmãos conheci<strong>do</strong>s na<br />
cidade por serem bons de briga. Fazia anos que eu não os via. De repente, aí pelo final de 1978,<br />
um deles me procurou.<br />
— <strong>Caio</strong>, preciso de ajuda. Um anjo man<strong>do</strong>u eu vir falar com você — disse ele, e eu achei que<br />
tu<strong>do</strong> não passava de uma gozação.<br />
— Ah, é? Que anjo foi esse? — indaguei também brincan<strong>do</strong>.<br />
— Não tô brincan<strong>do</strong> não. Foi um anjo mesmo — repetiu ele com o rosto mais que sério. —<br />
Olha, meu irmão e eu temos uma loja aqui no edifício Cidade de Manaus. Os negócios tavam in<strong>do</strong><br />
bem, mas de repente começou a ficar tu<strong>do</strong> ruim. A gente tava quebran<strong>do</strong>. Então resolvemos fazer<br />
uma loucura. Como a gente tem um seguro contra incêndio, revolvemos tocar fogo na loja. Com a<br />
grana dava pra salvar o negócio — disse ele, mostran<strong>do</strong>-me o braço —, não posso nem lembrar<br />
que fico to<strong>do</strong> arrepia<strong>do</strong>.<br />
— Mas e aí, o que foi que aconteceu? — eu já estava fican<strong>do</strong> bastante curioso.<br />
— A gente preparou tu<strong>do</strong>. A idéia era que fosse um fogo bran<strong>do</strong> e que queimasse só a loja da<br />
gente. Na noite da véspera, eu estava muito ansioso e meu irmão parecia estar calmo. Fomos pra<br />
casa. Eu saí e ele ficou sozinho. Olha, bicho, o que ele contou é incrível. Só acreditei porque você<br />
conhece o cara. Ele não tem me<strong>do</strong> de nada e num tá nem aí pra esse negócio de religião e Deus e<br />
o escambau — afirmou, deixan<strong>do</strong>-me cada vez mais em suspense. — Ele disse que tava toman<strong>do</strong><br />
um wisquinho senta<strong>do</strong> na sala quan<strong>do</strong> viu um ser cheio de luz entrar pela sala, cara. O ser não<br />
tocava no chão, flutuava e se movia como se estivesse sen<strong>do</strong> empurra<strong>do</strong> suavemente de um la<strong>do</strong><br />
para o outro — falou, mostran<strong>do</strong>-me outra vez o braço to<strong>do</strong> arrepia<strong>do</strong>.<br />
— E como era esse ser?<br />
— Era como um homem, só que cheio de luz e muito bonito.<br />
— Mas e aí? O que foi que ele disse pro teu irmão?<br />
— Ele disse que tinha si<strong>do</strong> manda<strong>do</strong> por Deus pra nos impedir de matar muita gente. Disse<br />
que o que íamos fazer teria conseqüências desastrosas. Botou a mão nos olhos de meu irmão e fez<br />
ele ver — disse com os olhos cheios de lágrimas.<br />
— Ver o que, mano? — perguntei, já anteven<strong>do</strong> o desfecho de tu<strong>do</strong> aquilo.<br />
— Ele viu o fogo pegan<strong>do</strong> na loja ao la<strong>do</strong> e incendian<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o edifício, com centenas de<br />
mora<strong>do</strong>res. Era de noite. Então to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tava em casa. Era gente morren<strong>do</strong> pra to<strong>do</strong> la<strong>do</strong> —<br />
ele já não conseguia continuar de tanta emoção.<br />
— Mas o que é que isso tem a ver comigo? — perguntei, queren<strong>do</strong> juntar as pontas da<br />
história.<br />
— É que depois que o ser mostrou isso a ele, meu irmão ficou congela<strong>do</strong>. Parecia que estava<br />
morto. Não se movia <strong>do</strong> lugar. Foi quan<strong>do</strong> o ser me man<strong>do</strong>u procurar você — falou ele me<br />
olhan<strong>do</strong> com um ar de quem havia chega<strong>do</strong> mais perto <strong>do</strong>s mistérios da vida <strong>do</strong> que jamais<br />
imaginara.<br />
— Mas como é que foi que o anjo man<strong>do</strong>u vocês me procurarem? — perguntei, já<br />
esclarecen<strong>do</strong> que o ser era, na verdade, um anjo <strong>do</strong> Senhor.<br />
— Ele disse: “Aqui nesta cidade tem um amigo de vocês que conhece a Deus. Procurem o<br />
<strong>Caio</strong> <strong>Fábio</strong> e ele vai ajudar vocês.” Foi só isso cara, o anjo te conhece — completou.<br />
Parti daquele ponto e falei de Cristo a ele e, depois, ao seu irmão, que, no entanto, era um<br />
homem muito duro de coração. Ficou uns 15 dias choca<strong>do</strong>, mas logo esqueceu tu<strong>do</strong> e mergulhou<br />
nas águas escuras das paixões que vivia. O porta<strong>do</strong>r da mensagem angelical, entretanto, ficou<br />
toca<strong>do</strong> por muito tempo. Passou a ir à igreja e nunca mais foi o mesmo. Casou-se com a moça que<br />
namorava naquele tempo e jamais deixou de ler a Bíblia. Não se tornou um crentão evangélico,<br />
mas jamais conseguiu deixar de ser um cristão. Aquele contato imediato de primeiro grau com as