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evelações, impressões e de certezas indubitáveis.<br />
— Sonhei que você estava in<strong>do</strong> <strong>do</strong> nosso meio — um disse.<br />
— Fechei os olhos para orar e vi você de mudança para o Rio — falou um outro.<br />
— Li um livro que falava de um rapaz que se converteu aos 18 anos, foi ordena<strong>do</strong> aos 21 e<br />
mu<strong>do</strong>u para uma cidade grande aos 26 para expandir seu ministério. Você está com 26 anos<br />
agora, não está? — perguntou-me o <strong>pastor</strong> Alcebiades Vasconcelos, da Assembléia de Deus.<br />
Enfim, foram exatamente duas semanas de histórias assim. Treze narrativas, ao to<strong>do</strong>. Então,<br />
os comunica<strong>do</strong>s cessaram de uma vez.<br />
Após aquela sucessão de coisas, Alda e eu viemos ao Rio ver onde iríamos morar. Ela desejava<br />
ficar perto da família, no Méier. Eu preferia ficar perto da igreja, <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da baía de<br />
Guanabara. No fim, decidimos juntos por Niterói. Mas no processo de decisão, algo estranho<br />
aconteceu.<br />
Havia um <strong>pastor</strong> presbiteriano muito conheci<strong>do</strong> no Rio àquela altura. E quan<strong>do</strong> eu morava em<br />
Manaus, sempre que vinha para as bandas <strong>do</strong> sudeste eu pregava na igreja dele, em Copacabana.<br />
Ele, o <strong>pastor</strong>, era um homem estranho. Parecia místico, mas ao mesmo tempo mostrava-se<br />
completamente cético em relação a quase tu<strong>do</strong>. Só andava vesti<strong>do</strong> com aparatos religiosos, mas ao<br />
mesmo tempo era um ferrenho crítico da religião. “Eu não sei qual é a desse cara”, Alda dizia.<br />
Num daqueles dias, ele nos convi<strong>do</strong>u para ir até o seu encontro para um almoço e, em<br />
seguida, para uma reunião na qual eu falaria. Tu<strong>do</strong> aconteceu conforme o previsto. Quan<strong>do</strong> já<br />
estávamos sain<strong>do</strong>, ele nos levou até a porta <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s da igreja, que dava para uma rua lateral.<br />
Ele estava vestin<strong>do</strong> um paletó preto sobre uma camisa de colarinho clerical de tom azul-claro.<br />
Seus olhos castanho-amarela<strong>do</strong>s, expostos à claridade, brilhavam de mo<strong>do</strong> sedutor e penetrante.<br />
Enquanto ele falava, fixei-me no movimento <strong>do</strong> vasto bigode que ele usava.<br />
— Meu irmão, você poderia vir trabalhar aqui comigo. Você tem coisas que eu não tenho e eu<br />
tenho coisas que você não tem. Juntos, você e eu, podemos balançar esta cidade. Pense nisso e<br />
veja se quer vir se juntar a mim aqui em Copacabana — falou-me com aquela voz de sotaque<br />
diferente e tom nitidamente sacer<strong>do</strong>tal.<br />
Saí dali e fui pregar em São Paulo. Falei quatro noites na quadra da Associação Cristã de<br />
Moços. No <strong>do</strong>mingo à tarde, fomos almoçar com o <strong>pastor</strong> Valter Rodrigues, organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
evento. Após o almoço, ele me chamou num canto e disse que queria me contar um sonho que ele<br />
tivera na noite anterior e que o deixara muito angustia<strong>do</strong>.<br />
— Eu vi você e Alda em pé na frente de uma casa com cara de igreja. Falan<strong>do</strong> com vocês,<br />
estava um homem moreno, de olhos claros e de bigode, que usava uma roupa preta de religioso.<br />
Ele estava com a mão no seu ombro, dizen<strong>do</strong>: “Venha trabalhar comigo. Nós podemos nos ajudar<br />
muito. Juntos nós vamos fazer coisas grandes.” Olha, irmão, no meu sonho uma voz dizia pra<br />
você ficar longe dele, pois ele está envolvi<strong>do</strong> com coisas estranhas que logo virão à tona, e se você<br />
estiver perto, elas vão destruir você e seu futuro. Houve alguma coisa assim com você,<br />
ultimamente? — perguntou ele, enquanto eu não acreditava no nível de detalhamento daquela<br />
revelação.<br />
— É, houve sim. Há poucos dias — falei assusta<strong>do</strong>, e contei a história toda para ele. Oramos<br />
juntos e agradecemos a Deus por ter me livra<strong>do</strong> daquela cilada espiritual.<br />
Eu e Alda retornamos e começamos a fazer as malas. Um pouco antes de sair de Manaus, vi<br />
meu amigo de outros tempos, Neto. Agora, sete anos depois de nossas aventuras, ele também<br />
havia passa<strong>do</strong> por processos de conversão. Mesmo que ainda praticasse jiu-jítsu, estava<br />
inteiramente dedica<strong>do</strong> à política. Após concluir brilhantemente o curso para diplomata, havia<br />
decidi<strong>do</strong> ingressar no Itamarati. Entretanto, não demorou a descobrir que o germe da política<br />
habitava seu sangue.