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Confissões do pastor - Caio Fábio

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o machucou, por favor, tire isso <strong>do</strong> coração. Eu não quero criar situações que venham a<br />

amargurá-lo — falei, enquanto ele se ajeitava na cadeira mais de uma vez.<br />

Eu pensei que ele iria mudar o tom e julgar minha palavra impertinente. Achei que talvez ele<br />

fosse me confrontar. E até preferia que fosse assim, pois me daria a chance de esclarecer as<br />

coisas e botar um ponto final naquilo tu<strong>do</strong>.<br />

— Olhe, nós estamos viven<strong>do</strong> dias difíceis. A imprensa entra no processo para cumprir um<br />

papel muito negativo. No primeiro semestre, até que me pouparam, embora o tom seja sempre<br />

contra as instituições <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Mas eu acredito na democracia. Se antes eu já acreditava, agora<br />

acredito mais. Críticas fazem parte <strong>do</strong> processo. Agora, devo dizer, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> quer que o esta<strong>do</strong><br />

seja o paizão que dá tu<strong>do</strong>. Não funciona. Temos é que ajudar as pessoas a gerarem renda por elas<br />

mesmas — disse o governa<strong>do</strong>r com um ar filosófico.<br />

— Certo, governa<strong>do</strong>r. Certo — disse eu, enquanto ele prosseguia.<br />

— Agora, jornalista, repórter, não, eles não têm acesso às minhas intimidades sobre as<br />

instituições e a respeito das pessoas — completou o governa<strong>do</strong>r. Naquele momento, eu entendi<br />

que ele estava achan<strong>do</strong> que aquelas informações haviam si<strong>do</strong> passadas a mim especificamente<br />

por algum jornalista. — Aqui no esta<strong>do</strong>, é tu<strong>do</strong> muito difícil. Até para reequipar a polícia é difícil.<br />

Você tenta, mas pode vir um tribunal e botar a sua intenção por terra. Lá na sua Fábrica de<br />

Esperança é diferente. Você aperta o botão, determina e tu<strong>do</strong> acontece. Aqui eu aperto o botão,<br />

mas não funciona. <strong>Caio</strong>, pra fazer funcionar, tem que se dar por inteiro. Eu tenho muita<br />

preocupação com a parte institucional. É por isso que eu me preocupo com alguns movimentos<br />

de vocês. Às vezes o teor é muito radical, às vezes cometem muitos equívocos — naquele ponto,<br />

eu estava tentan<strong>do</strong> entender onde o governa<strong>do</strong>r Marcello Alencar queria chegar, mas ainda não<br />

estava claro para mim. — Olha só o Betinho. Sou amigo dileto dele. Mas quan<strong>do</strong> ele trabalhou<br />

como “ouvi<strong>do</strong>r” da prefeitura, foi para Brasília com o (ex-prefeito) Saturnino para abraçar o<br />

Congresso de mãos dadas, para pressionar a votação de uma lei. Bonito, mas não dá. Estou<br />

falan<strong>do</strong> <strong>do</strong> Betinho como exemplo clássico. Agora ele está numa boa, amadureceu. Já quer que<br />

to<strong>do</strong>s os cidadãos façam alguma coisa. Antes ele jogava muito só. Ele melhorou. Eu não quero<br />

magoar o Betinho, eu o a<strong>do</strong>ro. O que eu acho é que, às vezes, esses movimentos de vocês são um<br />

pouco maniqueístas: o governo não presta, e nós é que temos que fazer as mudanças — disse o<br />

governa<strong>do</strong>r.<br />

Naquele momento, entendi um pouco melhor. De alguma forma, ele nos percebia como<br />

inimigos da ineficácia <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Reconhecê-la era muito fácil para ele. Afinal, ele mesmo dissera<br />

que “apertava os botões e não funcionava”. Mas gostaria que ele mesmo fosse aquele que tivesse<br />

sempre o direito de criticar a máquina <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Quem quer que o fizesse de fora <strong>do</strong> sistema<br />

corria o risco de ser visto como um radical maniqueísta.<br />

Ele prosseguiu falan<strong>do</strong> de como a reputação <strong>do</strong>s políticos andava baixa e <strong>do</strong> quanto isso<br />

atrapalhava as ações <strong>do</strong> governo. Então entrou mais objetivamente na questão das chamadas<br />

ONGs.<br />

— Eu acompanho, respeito, estimulo e acolho esses movimentos. Mas faço isso confiante de<br />

que esses movimentos não deixem de dar ao esta<strong>do</strong> as responsabilidades que lhe são inerentes. O<br />

esta<strong>do</strong> não pode se dar ao luxo de dar satisfação para uma ONG. Elas não têm a legitimidade que<br />

o esta<strong>do</strong> tem. Eu tive experiências muito ruins com as ONGs na Eco 92. Mas o movimento de<br />

vocês eu respeito, tem caráter religioso e eu aprendi a respeitar os evangélicos na campanha<br />

política. Foi quan<strong>do</strong> eu tive a idéia de terceirizar a ação social <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> para as instituições<br />

religiosas. O governo não tem como competir com o voluntaria<strong>do</strong> das igrejas, tem? — concluiu<br />

Marcello Alencar, indiretamente dizen<strong>do</strong> por que ele havia entrega<strong>do</strong> toda a Secretaria de<br />

Bem-Estar Social <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> para a Igreja Universal. — Na Fábrica de Esperança você tem algum

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