23.04.2013 Views

Confissões do pastor - Caio Fábio

Confissões do pastor - Caio Fábio

Confissões do pastor - Caio Fábio

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Fragoso para pegar a causa, pois temo que eles só estejam esperan<strong>do</strong> você pegar pra cair matan<strong>do</strong><br />

— falei angustia<strong>do</strong>, pois não queria magoar Nilo de jeito nenhum. Senti, entretanto, que ele ficou<br />

magoa<strong>do</strong>. Mas sabia que aquele não era um mal sem cura. Afinal, o que nos unia era muito maior<br />

<strong>do</strong> que os desencontros de um momento. E foi o que aconteceu: Nilo não achou que fiz o melhor,<br />

porém me per<strong>do</strong>ou pela decisão que tomei.<br />

O depoimento aconteceu no dia 30 de novembro, na 40ª DP de Rocha Miranda, num<br />

subúrbio <strong>do</strong> Rio. O delega<strong>do</strong> se dizia evangélico, mas, pelo menos ali, não demonstrava ter nem<br />

mesmo cacoete de crente. No início nos tratou bem, depois endureceu e, por fim, tornou-se<br />

extremamente amável. A mídia cobriu amplamente o assunto.<br />

O clima estava pesa<strong>do</strong>. Havia sempre um carro para<strong>do</strong> em frente à Fábrica de Esperança com<br />

alguns homens mal-encara<strong>do</strong>s dentro, que filmavam to<strong>do</strong>s os nossos movimentos de entrada e<br />

saída. Meu carro também estava sen<strong>do</strong> segui<strong>do</strong> por um Santana marrom metálico, com quatro<br />

homens fortes, que não faziam questão de disfarçar que iam atrás de mim onde quer que eu<br />

fosse.<br />

— Que foi isso, Ivo? — perguntei assusta<strong>do</strong> por ter si<strong>do</strong> acorda<strong>do</strong> de um cochilo com uma<br />

manobra súbita que ele fizera na entrada da ponte Rio—Niterói.<br />

— Reveren<strong>do</strong>, é que eu consegui dispensar os caras. Fiz que ia pra avenida Brasil e, na<br />

horinha, virei pra Niterói. Dessa vez eles dançaram. Num dá pra retornar com to<strong>do</strong>s esses carros<br />

atrás deles — disse meu motorista, feliz da vida por ter despista<strong>do</strong> os “homens”.<br />

— Da próxima vez, vê se não me acorda, Ivo. Tô <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong> pouco à noite e aproveito pra<br />

cochilar aqui no carro — falei brincan<strong>do</strong>.<br />

— Reveren<strong>do</strong>, os caras tão aí atrás de novo. O que a gente faz? — perguntou Ivo,<br />

decepciona<strong>do</strong>.<br />

— Nada irmão. A gente não faz nada. A gente num tá nem aí. Eu vou <strong>do</strong>rmir — falava<br />

brincan<strong>do</strong>, mas certo que aquela era a única coisa a ser feita.<br />

— Quem são esses caras? — perguntava o motorista.<br />

— Sei lá, meu irmão. Acho melhor a gente nem descobrir — respondia com convicção.<br />

Naqueles dias, tive certeza que nossos telefonemas estavam sen<strong>do</strong> “ouvi<strong>do</strong>s”. Então,<br />

contratei a firma de um cristão que trabalha com essas tecnologias de espionagem e<br />

contra-espionagem e pedi que passassem um “pente fino” em nossos aparelhos.<br />

— Reveren<strong>do</strong>, os da Fábrica estão grampea<strong>do</strong>s. Os da Vinde, não. E o seu celular é fácil<br />

grampear. Os caras que estão atrás <strong>do</strong> senhor no Santana podem ouvir tu<strong>do</strong> com um aparelho<br />

muito simples. Até mesmo com outro celular. Não converse nada pessoal ou íntimo no celular<br />

porque é cilada — informou-me ele.<br />

— Tem umas cartas estranhas aqui. Abri porque vi que eram pro senhor e foram mandadas<br />

pra Fábrica. Gente que escreve pro senhor não escreve pra cá, mas pra Vinde. E essas aqui têm o<br />

timbre da PM — disse Cristina me estenden<strong>do</strong> duas cartas.<br />

Os textos das cartas eram confusos para leigos <strong>do</strong>s assuntos policiais da cidade. Mas para um<br />

entendi<strong>do</strong>, ali podiam estar algumas pistas interessantes.<br />

Eis aqui um trecho <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> da primeira carta:<br />

A outra carta seguia uma linha diferente, mas levava basicamente ao mesmo tema: teria<br />

havi<strong>do</strong> manipulação ou mesmo armação no episódio da apreensão de cocaína na Fábrica de<br />

Esperança. A diferença é que a segunda carta fora encaminhada ao governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>. Eis o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!