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Capítulo 50<br />
“De onde veio este sonho, senão porque tinha os ouvi<strong>do</strong>s atentos a Teu coração, ó<br />
Deus bom e onipotente, que cuidas de cada um de nós como se não tiveras mais<br />
nada que cuidar, cuidan<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s como de cada um!”<br />
Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />
Dezembro de 1994 deve ter si<strong>do</strong> o mês mais intenso de minha vida até hoje. Subia morros<br />
três vezes por semana, pregava todas as noites, passava o dia dan<strong>do</strong> entrevistas para repórteres <strong>do</strong><br />
Brasil e de outros países, participava de dezenas de reuniões, visitava Bangu I e o presídio Milton<br />
Dias Moreira todas as semanas, articulava campanhas com o pessoal <strong>do</strong> Viva Rio, buscava<br />
dinheiro para um monte de projetos novos, e corria com os preparativos para a inauguração da<br />
Fábrica de Esperança. Naquele mês, aconteceu de tu<strong>do</strong>.<br />
— Amor, tive uma visão espiritual estranha. Eu estava oran<strong>do</strong> em casa quan<strong>do</strong> tive uma visão<br />
da Fábrica. Era como se eu estivesse num ponto no espaço, sobre ela. De lá, eu via uma luz<br />
<strong>do</strong>urada, um luz líquida, circundan<strong>do</strong> e penetran<strong>do</strong> na Fábrica. Mas dentro dela, havia umas<br />
manchas negras nas quais a luz não conseguia penetrar. Não sei o que é, mas acho que Deus está<br />
falan<strong>do</strong> que tem coisa ruim enterrada lá — disse-me Alda numa daquelas manhãs.<br />
Alda convi<strong>do</strong>u umas amigas e foi até a Fábrica de Esperança. Para quem visse de longe,<br />
poderia parecer que aquelas três mulheres estavam ali usan<strong>do</strong> algum tipo de aparelho detector.<br />
Andavam de um la<strong>do</strong> para o outro, “sentin<strong>do</strong>” as “impressões <strong>do</strong> lugar”.<br />
Depois de passarem um dia inteiro em oração, elas se sentiram satisfeitas.<br />
— Deus vai mostrar o que está acontecen<strong>do</strong> aqui. Mas é bom você mandar vasculhar este<br />
lugar. Tem algo ruim aqui — Alda me falou no fim daquele dia.<br />
Em muitas ocasiões ela tinha ti<strong>do</strong> aquele tipo de premonição espiritual, e todas as vezes que<br />
eu não lhe dera ouvi<strong>do</strong>s, de algum mo<strong>do</strong> eu havia sofri<strong>do</strong> as conseqüências. Assim, depois de<br />
muito penar, aprendi a levar a sério as intuições espirituais de Alda.<br />
— Lidinha, mande passar um pente fino aqui na Fábrica. Alda acha que podem ter posto<br />
alguma coisa ruim aqui. Pode ser desde macumba até drogas. Veja isso — pedi à administra<strong>do</strong>ra.<br />
O problema é que são 55 mil metros quadra<strong>do</strong>s de área, e 45 mil metros quadra<strong>do</strong>s de espaço<br />
construí<strong>do</strong>. Conseguir varrer aquela propriedade toda, com seus múltiplos esconderijos, seria<br />
uma tarefa quase impossível da noite para o dia.<br />
— Pastor, o senhor não vai acreditar. Achamos armas enterradas numa área baldia nos<br />
fun<strong>do</strong>s da Fábrica, bem perto da fronteira com a favela — disse-me Lídia, com voz notadamente<br />
nervosa, no fim da tarde <strong>do</strong> dia seguinte. — O que a gente faz? — perguntou.<br />
Eu chamei Ernan Mafra, assessor jurídico da Fábrica, e contei a história.