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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Mamãe abriu o texto que papai havia solicita<strong>do</strong>, e ele leu o capítulo to<strong>do</strong> como alguém que já<br />

conhecesse a passagem.<br />

— Que coisa linda. Foi escrito em estilo enfático. Tu<strong>do</strong> se calça na fé. Parece um texto<br />

poético. Eu não sabia que a Bíblia tinha passagens como esta — disse ao final.<br />

Mamãe, então, se atreveu a perguntar onde ele tivera sua curiosidade estimulada para a<br />

leitura da Bíblia, e sua resposta foi inesquecível.<br />

— Hoje, enquanto vocês estavam lá dentro da igreja, eu ouvi uma voz masculina belíssima<br />

cantan<strong>do</strong> um hino. Achei tão bonito, que saí <strong>do</strong> carro e fui ver quem estava cantan<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong><br />

cheguei lá dentro, o homem já estava acaban<strong>do</strong>. Fiquei só um pouquinho mais para ver o que<br />

estava acontecen<strong>do</strong> ali. Então, uma mulher começou a perguntar a um grupo de senhoras o que<br />

era a “fé”. Fiquei somente porque gosto de ouvir estupidez feminina. Mas que nada. As mulheres<br />

pensavam. Veio cada resposta sobre o tema da fé que me deixou admira<strong>do</strong>. Por fim, a tal da<br />

professora veio dizer que as respostas eram fracas. Achei que ela devia ser uma anta. Naquele<br />

momento, pensei que a burrice religiosa fosse finalmente se manifestar. Ela man<strong>do</strong>u ler Hebreus<br />

11:1. Quan<strong>do</strong> eu ouvi aquilo, fiquei mais impressiona<strong>do</strong> ainda. Era isso aqui: “A fé é a certeza de<br />

coisas que se esperam e a convicção de fatos que se não vêem.” Pode haver definição de fé mais<br />

concisa e objetiva <strong>do</strong> que esta? — ele perguntou a uma platéia de quatro perplexos assistentes,<br />

mamãe, eu, Suely e Luiz. Aninha ainda era pequena demais para saber que estava viva.<br />

Na seqüência, ele disse que iria ler a Bíblia toda e foi para o Gênesis. Mamãe, entretanto,<br />

razoavelmente acostumada à leitura bíblica, pensou que se papai fosse para o começo <strong>do</strong> livro, ele<br />

perderia a motivação logo de saída. Ela temia aquelas longas genealogias judaicas ou aqueles<br />

textos cheios de leis cerimoniais e de recomendações litúrgicas completamente desinteressantes<br />

para o leitor leigo.<br />

— Por que você não começa <strong>do</strong> Novo Testamento? Este livro é diferente. Para que se possa<br />

entender bem o começo, precisa-se compreender o fim — falou mamãe.<br />

Na verdade, o que ela queria era que ele lesse logo sobre a vida de Jesus e seus feitos<br />

maravilhosos, pois sabia que, se ele realmente tivesse uma introdução livre e sem preconceitos à<br />

leitura <strong>do</strong>s evangelhos, Jesus certamente exerceria sobre papai uma profunda fascinação. Tão<br />

logo seus olhos caíram sobre as páginas <strong>do</strong>s evangelhos, algo estranho começou a acontecer a ele.<br />

A história de Jesus, conforme Mateus, encantou-o, especialmente pelo fato de que ali Jesus<br />

aparece fortemente judaico e como a resposta de Deus às questões <strong>do</strong> povo de Israel. Papai não<br />

podia entender como a vida de Jesus cumprira propósitos proféticos tão minuciosamente<br />

detalha<strong>do</strong>s pelos profetas da Antiguidade. Era incrível, mas era verdade. Estava escrito ali. Leu<br />

Marcos, foi a Lucas e mergulhou de cabeça em João. Ele não conseguia parar. O fato é que<br />

quan<strong>do</strong> ele chegou a João, capítulo 19, na narrativa da Crucificação, já era madrugada, aí pelas<br />

duas da manhã.<br />

Ele estava só, senta<strong>do</strong> na cozinha. Seu coração ardia com um calor que ele jamais<br />

experimentara em toda a sua existência. Sua alma estava enternecida por um amor que ele não<br />

sabia que existia neste mun<strong>do</strong>. Subitamente, caiu sobre ele uma profundíssima convicção de<br />

culpa. Começou a chorar e ajoelhou-se diante daquele amor que o vencia. Ainda mais<br />

profundamente, veio-lhe à mente uma outra percepção: a morte de Jesus não fora uma ocorrência<br />

de amplitude somente histórica e sociológica, ou seja, não tinham si<strong>do</strong> apenas os judeus e os<br />

romanos que haviam mata<strong>do</strong> Jesus. De alguma forma que não podia explicar, veio-lhe a certeza<br />

de que ele, <strong>Caio</strong> <strong>Fábio</strong> D’Araújo, filho <strong>do</strong> Dr. João <strong>Fábio</strong> de Araújo e neto de seu Araujinho,<br />

também era responsável pela morte de Cristo. E não somente ele, mas cada pessoa neste mun<strong>do</strong>.<br />

Naquela hora, papai compreendeu que havia algo irremediavelmente erra<strong>do</strong> com a natureza<br />

humana, sen<strong>do</strong> essa a razão pela qual, mesmo desejan<strong>do</strong> o bem, freqüentemente nos metemos

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