You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
lábios, cheguei à conclusão que não a deixaria passar incólume pela minha casa. O que eu não<br />
sabia era que ela já chegara decidida a viver muito bem aquele fim de semana. Sen<strong>do</strong> quase três<br />
anos mais velha <strong>do</strong> que eu e conhecen<strong>do</strong>-me de fotografia, achou que não faria mal se ela desse<br />
uns abraços pedagógicos naquela criança antes de voltar a Manaus, onde o namora<strong>do</strong>, um rapaz<br />
de vinte anos de idade, a esperava.<br />
E ela me atacou com tal poder e <strong>do</strong>mínio, que não precisei fazer outra coisa, a não ser me<br />
entregar à avidez da garota.<br />
Ela foi embora e me deixou perplexo. No fun<strong>do</strong>, fiquei pensan<strong>do</strong> que o compadre de papai<br />
estava ten<strong>do</strong> um problemão com a filha e não sabia. Fiz tu<strong>do</strong> para não me apaixonar, apesar de<br />
não conseguir esquecer seu cheiro e o <strong>do</strong>ce gosto de seus lábios. Seis meses depois ficamos<br />
saben<strong>do</strong> que ela estava grávida <strong>do</strong> namora<strong>do</strong> de Manaus e que os <strong>do</strong>is se casariam. De qualquer<br />
forma, a <strong>do</strong>ce experiência com uma menina mais velha e tão bela, que já estava até casan<strong>do</strong>,<br />
levantou imensamente a minha autoconfiança.<br />
Papai, entretanto, mesmo não saben<strong>do</strong> das minhas aventuras com as meninas, fazia<br />
colocações pesadíssimas sobre aspectos de natureza moral relaciona<strong>do</strong>s ao namoro. Eu não<br />
estava gostan<strong>do</strong> nada daquilo. Achava que ele havia esqueci<strong>do</strong> rápi<strong>do</strong> demais as <strong>do</strong>res que a sua<br />
própria falta de moral havia causa<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s nós. Além disso, também não me agradava que,<br />
depois de crente, a única coisa que ele quisesse fazer fosse falar de Cristo, onde quer que parasse<br />
para conversar. Eu me constrangia com aquilo. E para completar, ele se afastou completamente<br />
<strong>do</strong> meu mun<strong>do</strong>. No início, ainda ia ao Maracanã comigo e dirigia o time Ingá Futebol Clube que<br />
eu e uns garotos <strong>do</strong> bairro havíamos funda<strong>do</strong>. Mas depois de <strong>do</strong>is anos de igreja, ele não tinha<br />
mais tempo para nada disso.<br />
E comecei a achar chato tê-lo por perto. Ven<strong>do</strong> televisão, ele sempre fazia comentários sobre<br />
como o mun<strong>do</strong> estava perdi<strong>do</strong> e como os homens eram cegos e sem Deus. Eu ficava quican<strong>do</strong> de<br />
raiva e pensava: “Pô, tu<strong>do</strong> bem que ele não goste. Mas não precisa ficar fazen<strong>do</strong> sermão sobre<br />
tu<strong>do</strong>. Ele tá é muito chato.”<br />
Para completar, ainda havia um pessoal esquisito em volta dele. Um ex-cangaceiro, sempre<br />
cheio de histórias de milagres <strong>do</strong> Nordeste; um ex-suicida, seu Edésio, sempre duro de grana e<br />
falan<strong>do</strong> de como a graça de Deus o salvara de pular de um prédio na avenida Amaral Peixoto, em<br />
Niterói, e um monte de gente pobre e simples que o procurava na esperança de que aquele<br />
“irmão próspero” tivesse uma pequena ajuda para lhes dar. Eu achava o fim da picada. Ali, de<br />
alguma forma, começou a crescer dentro de mim um profun<strong>do</strong> repúdio por papai, mamãe e<br />
aquela fé que eles haviam abraça<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> tão fanático.