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Confissões do pastor - Caio Fábio

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chegou bem pertinho.<br />

Aí o Neto correu da garagem, deu uma baiana no grandalhão, sentou em cima dele e bateu só<br />

“um pouquinho”, mas o suficiente para conseguir o seu objetivo de intimidação. Não arrebentou<br />

o rapaz, porém o humilhou em público.<br />

— Você vai voltar pra Manaus e vai devolver tu<strong>do</strong> o que cê pegou da minha mulher. Tem um<br />

mês pra fazer isso. Se ela me disser que cê num fez nada, man<strong>do</strong> alguém de lá mesmo te finalizar<br />

— ameaçou.<br />

Adri foi embora, choran<strong>do</strong> de vergonha, <strong>do</strong> alto de seus 24 anos e <strong>do</strong> seu metro e noventa de<br />

altura. Então Neto olhou para mim e disse algo que me perturbou imensamente.<br />

— Cê sabe, o Dadá é mau-caráter. O Zé Curió é bom-caráter, apesar de tu<strong>do</strong>. Mas você,<br />

bicho, você é sem caráter. Vejo você parar pra dar tua fruta pras mães que pedem comida para os<br />

filhos na esquina. Mas vejo você fazer uma safadeza dessas. Eu tenho me<strong>do</strong> de você, bicho. Cê tá<br />

fican<strong>do</strong> perigoso, seu Macunaíma — ele falou com voz suave, mas em tom agressivo.<br />

Vindas de Neto — meu guru e mentor —, aquelas palavras me arrebentaram. Será mesmo<br />

que alguma coisa muito ruim tinha me muda<strong>do</strong> de vez? Será que eu havia perdi<strong>do</strong> a minha alma?<br />

Não fosse uma outra tarde daquele verão, acho que teria enlouqueci<strong>do</strong>. Estava em pé na<br />

esquina da Bolívar, por volta das duas da tarde, quan<strong>do</strong> vi um conheci<strong>do</strong> da praia passar com uma<br />

mulher que me arrebatou os senti<strong>do</strong>s. Ele era conheci<strong>do</strong> por ser louco e por ter si<strong>do</strong> acusa<strong>do</strong> de<br />

envolvimento na morte de Aída Cúri, vítima de um crime famosíssimo uma década antes. O<br />

pessoal dizia que ele era capaz de tu<strong>do</strong>, pois quan<strong>do</strong> bebia ficava completamente fora de controle.<br />

Mesmo ten<strong>do</strong> me<strong>do</strong> <strong>do</strong> Barão — como o chamavam —, decidi que aquela mulher valia qualquer<br />

risco.<br />

Aproximei-me como quem não quer nada e comecei a conversar com ele, propositadamente<br />

ignoran<strong>do</strong> a mulher. Fui tão desinteressa<strong>do</strong> por ela, que ele acabou me convidan<strong>do</strong> para tomar<br />

uma cerveja com os <strong>do</strong>is no Cabral 1500. Quan<strong>do</strong> sentei à mesa, já sabia que a mulher não seria<br />

mais dele daquela tarde em diante.<br />

Mira era paulista e tinha uns 22 anos. Portanto, era uns quatro anos mais velha <strong>do</strong> que eu.<br />

Morena clara, tinha olhos iluminadamente castanhos e cabelos finos, leves, que se agitavam ao<br />

vento. O corpo da mulher era grande, cheio, generoso de espaços, extravagantemente sedutor.<br />

Uma vez senta<strong>do</strong>s, comecei logo a jogar charme para ela. Eram olhadas rapidíssimas que<br />

diziam tu<strong>do</strong>. Então Barão levantou e foi ao banheiro. Era tu<strong>do</strong> o que eu queria. Toquei nela por<br />

debaixo da mesa e disse que não sabia o que faria se ela não me encontrasse naquela noite. Ela<br />

apenas me devolveu o toque no mesmo lugar e escreveu o telefone num pedaço de guardanapo.<br />

Ficamos quase a noite toda juntos, no apartamento de um amigo de Manaus, o Renatinho<br />

Fradera. No dia seguinte, fiquei saben<strong>do</strong> que ela era sobrinha de um cara que tinha fama de ser o<br />

político civil mais forte <strong>do</strong> regime militar. E mais: ela estava moran<strong>do</strong> numa cobertura que um<br />

famoso diretor de cinema havia empresta<strong>do</strong> ao tio dela. Fui direto para lá. Estava com me<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Barão, mas certo de que queria pagar o preço da aventura.<br />

Fomos a to<strong>do</strong>s os bailes da cidade de graça. Bastava dizer quem era o tio dela e as portas se<br />

abriam. A mãe de Mira, por sua vez, parecia estar perfeitamente confortável com a situação. Veio<br />

de São Paulo e foi apresentada a mim. Conversei sobre família, como bom garoto, e ela me disse<br />

que era presbiteriana.<br />

— Eu também — afirmei cheio de moral.<br />

— É mesmo? Qual é a sua igreja? — perguntou.<br />

— Bem, no momento an<strong>do</strong> meio distante, mas meu pai é um bom <strong>pastor</strong>. Um cara da pesada<br />

com Deus — afirmei com certo orgulho.<br />

Ela foi à praia e nos deixou à vontade, e nós nos entregamos aos prazeres que cabem nas

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