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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 25<br />

“Atribuo à Tua graça e indizível misericórdia o fato de teres derreti<strong>do</strong> meus<br />

peca<strong>do</strong>s como gelo. Além disso, também atribuo à Tua graça to<strong>do</strong>s os atos piores<br />

ainda que os aqui narra<strong>do</strong>s e que não cometi. E por que não os pratiquei, se<br />

naquele tempo amava o erro gratuitamente? Sim, foi pelo Teu amor e pela Tua<br />

graça que fui per<strong>do</strong>a<strong>do</strong> das torpezas que cometi e foi também por Tua bondade<br />

infinita que fui poupa<strong>do</strong> de ter feito coisas ainda piores.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Os pensamentos que se digladiavam em minha mente eram mais fortes <strong>do</strong> que quaisquer<br />

outros que jamais me haviam visita<strong>do</strong>. Eu pensei no inferno. Imaginei que talvez existisse<br />

realmente um lugar de punição e <strong>do</strong>r para aqueles que viviam e morriam dan<strong>do</strong> as costas ao<br />

Cria<strong>do</strong>r. Entretanto, as reflexões sobre o inferno eram menos fortes <strong>do</strong> que aquele movimento de<br />

borboletas espirituais revoan<strong>do</strong> loucas dentro de mim. Fazê-las parar era a única coisa que me<br />

interessava.<br />

Somente muitos anos depois foi que pude entender melhor o que estava acontecen<strong>do</strong> comigo<br />

naquela noite de quarta-feira, em julho de 1973. Muito depois daquele dia foi que aprendi que<br />

quan<strong>do</strong> a pior realidade que um ser humano conhece na existência é a morte, então ele quer viver;<br />

mas quan<strong>do</strong>, de súbito, ele reconhece a vida como sen<strong>do</strong> a pior experiência de seu existir humano,<br />

então, nesse dia, ele deseja ardentemente morrer.<br />

Era isso o que acontecia. Minha vida se tornara insuportável aos 18 anos de sua jornada, e eu<br />

achei que a morte era a minha mais acolhe<strong>do</strong>ra companhia. Dirigi a motocicleta numa velocidade<br />

média, angustiadamente reflexiva. Peguei a rua Sete de Setembro e fui até a esquina da rua<br />

Duque de Caxias, onde morava alguém que eu julgava que teria uma arma para me emprestar.<br />

Pela primeira vez eu não estava disposto a fazer testes ou jogos suicidas. Eu queria entrar em<br />

campo vestin<strong>do</strong> preto e desejava sair dali nos braços gela<strong>do</strong>s da morte. De súbito, entretanto, eu<br />

vi uma grande multidão parada à porta de um templo que havia <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito da rua.<br />

O lugar religioso era arquitetonicamente feio. Eu passara ali muitas vezes e sempre fizera<br />

questão de afirmar o mau gosto das cores daquele templo da Assembléia de Deus. Além disso, eu<br />

conhecia algumas pessoas que freqüentavam o lugar, e todas me pareciam muito esquisitas.<br />

Eram moças de cabelos longos, sem corte; rostos sem cor, sem batom ou quaisquer outros<br />

enfeites, e as pernas, muitas vezes, não eram depiladas. Os olhos, sobretu<strong>do</strong>, pareciam-me muito<br />

opacos, sem brilho, sem insinuação. Os homens eram <strong>do</strong> mesmo tipo, com o agravante de serem

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