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Confissões do pastor - Caio Fábio

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— Quan<strong>do</strong> é mesmo que vocês estão pensan<strong>do</strong> em casar? — perguntou. Alda entrou em ação<br />

e já foi fazen<strong>do</strong> planos em vez de responder a pergunta.<br />

— Em janeiro, capitão — disse meu pai sem alteração na voz.<br />

— E como é que vocês vão viver? Onde vão morar? Amor não paga a conta de luz e não põe<br />

pão na mesa, meninos! — falou de mo<strong>do</strong> soberano. — Além disso, esse aí — olhou para mim —<br />

não tem emprego e não me parece estar queren<strong>do</strong> ganhar a vida como to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

Desculpe-me, reveren<strong>do</strong>, o senhor era um advoga<strong>do</strong> brilhante, mas seu filho não era nada e agora<br />

quer ganhar a vida no bico, pregan<strong>do</strong>. Eu não enten<strong>do</strong> isso, não. O senhor me desculpe — disse<br />

meu futuro sogro.<br />

Papai respondeu calmamente que ele sabia o que estava fazen<strong>do</strong> e que acreditava em mim.<br />

— O senhor ainda vai agradecer a Deus por ter consenti<strong>do</strong> com a união <strong>do</strong> <strong>Caio</strong> <strong>Fábio</strong> e da<br />

Aldinha. O senhor vai ver — afirmou papai com total confiança.<br />

O segun<strong>do</strong> desejo, no entanto, era muito mais difícil de ser realiza<strong>do</strong>, pois embora eu<br />

desejasse viver para o ministério da pregação <strong>do</strong> evangelho, não podia me ver quatro anos dentro<br />

das paredes de um seminário. Achava que aquilo me afastaria das ruas, das escolas, <strong>do</strong> rádio e da<br />

televisão, e que eu, provavelmente, não sobreviveria ao tédio da experiência. Como sabia que os<br />

presbiterianos jamais consentiriam com minha ordenação sem o curso teológico, comecei a me<br />

imaginar para o resto da vida como um prega<strong>do</strong>r leigo <strong>do</strong> evangelho.<br />

— Vejo esses teólogos de seminário pregan<strong>do</strong> em templos vazios e falan<strong>do</strong> o que ninguém<br />

quer ouvir, enquanto eu prego e as pessoas se convertem. Por que eu vou ficar com inveja deles?<br />

— às vezes confidenciava a meu pai. — Eu vou é dar toda a minha vida para o evangelho de Cristo.<br />

Se me quiserem ordena<strong>do</strong>, que me ordenem; caso contrário, vou servir a Deus e não aos homens<br />

— prosseguia.<br />

O segun<strong>do</strong> semestre de 1974 foi também o tempo de algumas das minhas primeiras<br />

experiências cristãs com as forças espirituais <strong>do</strong> mal. Meu pai já era um combativo guerreiro<br />

espiritual desde sua primeira experiência com um possesso de demônios logo após sua<br />

conversão. Eu, todavia, só havia vivencia<strong>do</strong> aquela dimensão, até então, como vítima. Agora,<br />

entretanto, o cenário era completamente outro. Temor de ficar cara a cara com o bicho, sem a<br />

menor dúvida eu tinha, e muito. Mas, ao mesmo tempo, recusava-me a fugir da luta, se ela<br />

aparecesse.<br />

Dentre os amigos de oração de meu pai havia o irmão Israel. Os <strong>do</strong>is liam a Bíblia juntos,<br />

faziam visitas aos hospitais também juntos e expulsavam demônios juntos. Eu nunca ia com eles.<br />

— Vamos conosco, meu filho — convidava papai.<br />

— Obriga<strong>do</strong>, vou ficar aqui em oração por vocês — respondia com ar compenetra<strong>do</strong>, mas<br />

amedronta<strong>do</strong> por dentro. Meu temor era que aquelas forças, que já haviam me ronda<strong>do</strong> tão de<br />

perto, ainda tivessem o poder de me perturbar a alma.<br />

Um dia, contu<strong>do</strong>, eu estava conversan<strong>do</strong> com papai e Israel na garagem de nossa casa quan<strong>do</strong><br />

chegou alguém corren<strong>do</strong>, pedin<strong>do</strong> que os <strong>do</strong>is fossem ao bairro de São Francisco, a fim de<br />

expulsar um demônio que se apoderara de uma moça de 18 anos. Quan<strong>do</strong> ouvi a história, fiquei<br />

gela<strong>do</strong>. No fun<strong>do</strong>, sabia que não dava mais para fugir da luta. Eu jejuava e orava como pouca gente<br />

fazia, no nível daquelas disciplinas pessoais. Mas não me sentia prepara<strong>do</strong> para o confronto.<br />

— Vem com a gente, meu filho — papai convocou daquela vez, sem deixar margem para<br />

minha hesitação. Tremi como nunca havia tremi<strong>do</strong> diante de uma briga. Meus pêlos se<br />

arrepiaram e meu estômago embrulhou. Uma leve tonteira apoderou-se de mim. Eram os<br />

poderosos sintomas <strong>do</strong> me<strong>do</strong>. Mas não havia retorno.<br />

Quan<strong>do</strong> chegamos ao lugar, vimos que a casa ficava numa depressão profunda, talvez uns<br />

vinte metros abaixo <strong>do</strong> nível da rua. Papai desceu devagar e Israel ficou ao seu la<strong>do</strong>. Sem

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