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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 4<br />

“Eu não sabia que o mal não tem existência própria, exceto como privação <strong>do</strong><br />

bem, e isto no nível em que o ser não assume o seu papel.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

A década de 1930 havia começa<strong>do</strong> e logo cresceram os rumores de que as coisas estavam<br />

feias na Europa. Naquele tempo, a maioria das famílias de Manaus que tinha algum recurso<br />

financeiro enviava seus filhos para estudar na França, na Inglaterra ou em Portugal. Uma vez que<br />

Manaus ficava mesmo muito longe <strong>do</strong> Rio de Janeiro, os que podiam achavam que, já que de<br />

qualquer mo<strong>do</strong> teriam grandes despesas com a educação <strong>do</strong>s filhos, era melhor dar a eles a<br />

charmosa chance de aprender outra língua e ainda carregar na bagagem o peso de um curso<br />

superior na Europa.<br />

Por muitos anos, a mentalidade <strong>do</strong>s manauenses foi profundamente marcada pela nostalgia<br />

da passada era áurea da borracha. Segun<strong>do</strong> a lenda, no tempo em que a exportação de borracha<br />

trouxera riqueza à região, alguns magnatas locais acendiam seus charutos cubanos com notas de<br />

alguns réis. A narrativas como esta somavam-se outras acerca de como o teatro Amazonas fora<br />

construí<strong>do</strong> com material trazi<strong>do</strong> de navio da Europa e de como prédios inteiros da cidade, como a<br />

Alfândega de Manaus, haviam si<strong>do</strong> pré-fabrica<strong>do</strong>s na Inglaterra e transporta<strong>do</strong>s de navio para<br />

aquela orgulhosa cidade cultural, erguida no centro da mais fascinante floresta <strong>do</strong> planeta.<br />

Os rumores da guerra eram, obviamente, mais que fofoca internacional. A Segunda Guerra<br />

Mundial explodiu, e o mun<strong>do</strong> inteiro, em maior ou menor escala, foi dramaticamente afeta<strong>do</strong> por<br />

ela, inclusive a vida em Manaus.<br />

Uma das primeiras conseqüências foi que os pais que tinham filhos estudan<strong>do</strong> na Europa<br />

mandaram ordens irrevogáveis no senti<strong>do</strong> de que a rapaziada — havia ainda poucas moças<br />

estudan<strong>do</strong> fora <strong>do</strong> país — voltasse para casa. O efeito dessa ação foi que a maioria, em vez de fazer<br />

o caminho de volta à terrinha, preferiu parar no Rio ou, em segunda instância, em São Paulo,<br />

Salva<strong>do</strong>r ou mesmo em Recife, pois as opções de estu<strong>do</strong> universitário no Amazonas ainda não<br />

eram muitas. Quem quisesse ficar em Manaus precisava se contentar em estudar o<strong>do</strong>ntologia,<br />

farmácia, ou direito, sen<strong>do</strong> a última opção considerada a melhor, uma vez que a Faculdade de<br />

Direito <strong>do</strong> Amazonas orgulhava-se de já ter forma<strong>do</strong> profissionais que haviam se destaca<strong>do</strong> fora<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />

Ora, foi justamente nesta época de guerra e de poucos recursos que vovô <strong>Fábio</strong> teve de enviar<br />

Renato <strong>Fábio</strong> e Carlos <strong>Fábio</strong> para faculdades fora <strong>do</strong> Amazonas. Renato foi direto para o Rio<br />

estudar química industrial, recém-inaugurada como curso superior no Brasil. Carlos <strong>Fábio</strong> foi

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