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informar à diretoria o que estava acontecen<strong>do</strong>. Deviam esta informação a um guarda que havia<br />
fica<strong>do</strong> para trás, enquanto os demais invadiram a propriedade em perseguição aos invasores <strong>do</strong><br />
tráfico.<br />
4) Os guardas viram quan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s rapazes jogou um saco para o la<strong>do</strong> na correria, foram<br />
até o local e apreenderam o material.<br />
5) Os três rapazes foram então presos e leva<strong>do</strong>s dali.<br />
6) Os cerca de 16 guardas que participaram da operação dentro da Fábrica disseram estar<br />
com fome e subiram para o nosso refeitório, onde almoçaram descontraidamente.<br />
7) Cristina desceu <strong>do</strong> sexto andar, onde fica sua sala, e foi conversar com o comandante<br />
Marcos Paes. Viu, então, que ele estava falan<strong>do</strong> com alguém num telefone celular. “Tem mala”,<br />
dissera ele, fazen<strong>do</strong> alusão à presença de alguém estranho, no caso Cristina.<br />
8) Marcos Paes foi entran<strong>do</strong> na Fábrica, já depois da operação, aparentemente sen<strong>do</strong><br />
guia<strong>do</strong> por alguém <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> da linha.<br />
9) Ao telefone, o comandante Paes recebeu instruções para “preservar o local”, quan<strong>do</strong>,<br />
então, man<strong>do</strong>u que retirassem a droga de dentro da Patamo da polícia, que estava estacionada ao<br />
la<strong>do</strong> da caldeira.<br />
10) Cristina viu quan<strong>do</strong> da mala da caminhonete foi retirada uma sacola preta e levada outra<br />
vez para as proximidades da caldeira, a fim de que houvesse a perícia. Foi quan<strong>do</strong> a supervisora<br />
da Fábrica estranhou que a quantidade de drogas retirada de dentro da Patamo fosse bem maior<br />
<strong>do</strong> que a que fora anteriormente posta dentro <strong>do</strong> veículo.<br />
Depois disto, a mídia foi chamada, e o circo foi monta<strong>do</strong>.<br />
Como eu conheço muito bem aqueles que trabalham comigo, não havia de minha parte a<br />
menor dúvida sobre o que eles estavam falan<strong>do</strong>. E, basea<strong>do</strong> no testemunho deles, não cederia sob<br />
hipótese alguma ante as ameaças de quem quer que fosse quanto a pretender lançar sobre nós<br />
uma suspeição que nós abominávamos.<br />
Logo a seguir, reunimos a imprensa, mas não falei tu<strong>do</strong> o que já sabíamos. Preferi dizer que<br />
estávamos fazen<strong>do</strong> três coisas:<br />
1) Crian<strong>do</strong> uma comissão de investigação paralela, formada por uma policial federal, um juiz<br />
e um oficial militar. Razão: como o governa<strong>do</strong>r já demonstrara seu ânimo acusatório, perdera<br />
completamente a autoridade para conduzir o processo, de mo<strong>do</strong> que teríamos de nos precaver;<br />
caso contrário, seríamos julga<strong>do</strong>s sem tribunal. O veredicto governamental já estava da<strong>do</strong>.<br />
2) Contrataríamos uma vigilância independente para cuidar da segurança da Fábrica.<br />
3) Solicitaríamos a presença <strong>do</strong> Ministério Público acompanhan<strong>do</strong> as investigações policiais,<br />
visto havermos perdi<strong>do</strong> a confiança quanto à i<strong>do</strong>neidade <strong>do</strong> processo de investigação.<br />
Depois que eu falei, Rubem César pediu a palavra e abriu o coração. Falou de como aquela<br />
atitude governamental era perversa e disse que ninguém ali tinha nada contra o governa<strong>do</strong>r, mas<br />
que ele insistia em nos ver como inimigos.<br />
— Essa cidade é nossa. É de cada um de nós que vive nela. Não vamos nos sujeitar a esse<br />
arbítrio que quer nos tirar o direito de construirmos a sociedade onde vivemos — disse Rubem<br />
baten<strong>do</strong> no peito, fugin<strong>do</strong> ao seu estilo quase sempre comedi<strong>do</strong> e pedagógico. E enquanto ele<br />
falava, eu me emocionava.<br />
Em seguida, chegaram flores de Betinho para mim e para a Fábrica. Depois, <strong>Caio</strong> Ferraz, da<br />
Casa da Paz, pediu a palavra, caiu no choro e anunciou que estava deixan<strong>do</strong> o Rio, pois não<br />
agüentava mais o terror ao qual fora submeti<strong>do</strong> naquele ano, viven<strong>do</strong> sob ameaças e a freqüente