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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 27<br />

“Sentira-me atraí<strong>do</strong> pelo estu<strong>do</strong> da sabe<strong>do</strong>ria, mas ia adian<strong>do</strong> sempre a hora de me<br />

entregar à sua investigação. A busca da sabe<strong>do</strong>ria deveria ser preferida a qualquer<br />

felicidade terrena, pois não somente sua investigação, mas sobretu<strong>do</strong> sua<br />

descoberta, me daria acesso a riquezas maiores que os melhores tesouros <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> e mais excelentes que os maiores prazeres corporais, que, a um aceno,<br />

ainda estavam ao meu inteiro dispor.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Aquele ano de 1973, que havia começa<strong>do</strong> sob o signo da morte, estava terminan<strong>do</strong> como a<br />

estação de minha maior alegria e encontro na vida. Entretanto, eu me sentia na obrigação de dar<br />

rumos normais à minha existência. Talvez porque tenha ouvi<strong>do</strong> desde a infância que papai queria<br />

ter estuda<strong>do</strong> engenharia e nunca pôde, surgiu-me a idéia de que talvez meus pen<strong>do</strong>res fossem<br />

naquela área. Matriculei-me no curso de edificações, da Escola Técnica Federal, e fui à luta, em<br />

busca de um lugar ao sol.<br />

O problema é que dentro de mim havia um permanente desassossego. Dia e noite eu me via<br />

pregan<strong>do</strong> para multidões. Ia para a escola em jejum e mantinha a mente em oração e meditação o<br />

tempo to<strong>do</strong>. De súbito, comecei a me apanhar em lágrimas ante uma fórmula química ou uma<br />

equação de física. Tu<strong>do</strong> me falava das essências da existência e me remetia para meu Cria<strong>do</strong>r,<br />

com quem cochichava segre<strong>do</strong>s de amor essencial. Estava irremediavelmente apaixona<strong>do</strong> por<br />

Deus, e to<strong>do</strong> o resto, ainda que ten<strong>do</strong> sua importância reconhecida, tornava-se inapelavelmente<br />

secundário.<br />

A essa altura, lá pelo mês de março de 1974, minha mente começou a ficar definitivamente<br />

<strong>do</strong>minada pela idéia de que a pregação <strong>do</strong> evangelho era minha grande vocação. Isto porque, nas<br />

poucas vezes em que eu falara em público, duas coisas haviam aconteci<strong>do</strong>: meu interior fora<br />

toma<strong>do</strong> por uma alegria tão forte, que minha alma parecera estar experimentan<strong>do</strong> fortíssimas<br />

formas de prazer existencial. Além disso, eu havia percebi<strong>do</strong> que as pessoas paravam, como que<br />

incontrolavelmente ligadas ao que eu estava dizen<strong>do</strong>. E esses <strong>do</strong>is sinais me pareciam divinos.<br />

Foi nesse ponto que conheci um chileno, chama<strong>do</strong> Flávio Provoste, que havia si<strong>do</strong><br />

apresenta<strong>do</strong> à mensagem de Cristo enquanto tomava drogas na fronteira <strong>do</strong> Brasil com a<br />

Venezuela. Depois de passar um ano na casa de um <strong>pastor</strong> batista em Roraima, fora para Manaus.<br />

Flávio parecia um hippie. Com seus longos e lisos cabelos negros, queixo projeta<strong>do</strong>, rosto largo e<br />

não mais <strong>do</strong> que um metro e setenta de altura, ele era o tipo da figura cristã que me animava. Ali

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