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Confissões do pastor - Caio Fábio

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Capítulo 56<br />

“Com efeito: quem ousará negar que o futuro ainda não existe? Contu<strong>do</strong>, a espera<br />

<strong>do</strong> futuro já está no espírito. E quem poderá contestar que o passa<strong>do</strong> já não existe?<br />

Contu<strong>do</strong>, a lembrança <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> ainda está no espírito. Enfim, haverá alguém<br />

que negue que o presente carece de duração, porque é um instante que passa?<br />

Contu<strong>do</strong>, perdura a atenção, pela qual o que vai ser seu objeto tende a deixar de<br />

existir. O futuro, portanto, não é longo, porque não existe.”<br />

Santo Agostinho, <strong>Confissões</strong><br />

Em 1995, percebi que minha maior vulnerabilidade social estava na Fábrica de Esperança,<br />

daí ter resolvi<strong>do</strong> colocar lá alguém que ocupasse a função de supervisão geral. A pessoa naquela<br />

posição precisaria possuir grande habilidade política e diplomática, pois, naquele momento, mais<br />

<strong>do</strong> que de dinheiro, nós precisávamos de articulação e de vínculos. Havia ainda uma outra<br />

preocupação por trás daquela mudança. Sentia que existia algo estranho acontecen<strong>do</strong> nos<br />

basti<strong>do</strong>res da cidade e, para mim, estava claro que, o que quer que fosse acontecer, iria tocar<br />

naquele que era o meu calcanhar-de-aquiles: a Fábrica de Esperança. Se alguma coisa desse<br />

erra<strong>do</strong> ali, estaria de canela quebrada. Portanto, precisava ter lá uma pessoa de minha mais<br />

absoluta confiança.<br />

— Cris, eu tenho uma proposta a lhe fazer. Você quer assumir a supervisão geral da Fábrica?<br />

Serão quase quatro horas por dia dentro <strong>do</strong> carro só pra ir e voltar, e os maiores abacaxis <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> pra descascar. Você quer? — perguntei àquela que me dissera, quan<strong>do</strong> de nossa primeira<br />

visita ao prédio da Fábrica, que “aquilo era presente de grego”, e não dei tempo para a resposta.<br />

— Vá pra casa. Fale com seu mari<strong>do</strong> e com seus filhos e me dê uma resposta amanhã.<br />

Cristina já trabalhava como minha secretária há dez anos e sabia que eu não preciso falar<br />

muito tempo para expressar o desejo de uma decisão profunda. E, depois de chorar de me<strong>do</strong> da<br />

nova função e saudades da última, ela aceitou o desafio.<br />

— Eu não me sinto sain<strong>do</strong>, mas apenas continuan<strong>do</strong>. Se o senhor precisa de mim lá, eu vou<br />

— disse com emoção. E foi para ficar.<br />

No dia 8 de junho de 1995, uma fagulha quase pôs nosso sonho a perder. Um funcionário que<br />

soldava uma placa de ferro nas proximidades de um <strong>do</strong>s galpões da Fábrica de Esperança teve a<br />

infelicidade de ver uma pequena faísca desprender-se de seu maçarico e passar por entre as<br />

frestas <strong>do</strong> portão de ferro e a parede <strong>do</strong> galpão. A fagulha caiu sobre um lote de mil e seiscentas<br />

máquinas Xerox embaladas em caixas de isopor. As chamas gulosas por pouco não engoliram

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